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Nota Pastoral de D. Albino Cleto sobre a Cáritas

Leia na íntegra a nota pastoral de D. Albino Cleto sobre a Cáritas (2002).

ESCOLA DE SERVIÇO, MÃOS DE CARIDADE

Nota Pastoral do Bispo de Coimbra sobre a Cáritas Diocesana

1. Em 3 de Março próximo, vamos celebrar o “Dia Nacional Cáritas”. Neste ano de 2002, o centro das celebrações será a cidade de Coimbra. Considero, por isso, que esta é uma oportunidade excelente para lembrarmos na nossa Diocese, e porventura aclararmos, a missão da Cáritas Diocesana e os apreciáveis serviços que ela vem prestando.

2. Cáritas, um serviço diocesano
Todos saberemos que a Cáritas é uma instituição católica de serviço social e caritativo. Mas convirá ter um conhecimento mais exacto da sua identidade, sabendo distingui-la de outras organizações irmãs, igualmente católicas e muito louváveis. A Cáritas é uma organização católica internacional. Torna-se presente numa diocese quando nela é instituída pelo Bispo respectivo, que será, localmente, o seu responsável último. Assim, enquanto outras organizações nascem e dependem da animação de grupos de cristãos, leigos, religiosos ou pastores de almas, a Cáritas depende do Bispo, que a institui para ser as suas mãos no serviço dos pobres. Por isso, é o Bispo diocesano quem nomeia a sua Direcção local e lhe traça os rumos a seguir. Como é o Bispo também que dela se serve para estimular nas paróquias a pastoral da caridade e para acudir a situações de pobreza ou aflição em que o Pastor compromete toda a comunidade diocesana. As diversas “Cáritas” de cada diocese juntam-se numa federação nacional e, através da “Cáritas Nacional”, ligam-se a congéneres de outros países, o que lhes permite maior largueza de intervenções. Porque os exemplos esclarecem e dão força, adiantemos alguns. Foi tarefa da Cáritas Diocesana de Coimbra responder aos problemas das inundações do Mondego. Em tempos passados, estavam associadas as diversas Cáritas Diocesanas para fazerem face a um problema de âmbito nacional: a deficiente alimentação de muitas famílias pobres. Recentemente, foi através da “Cáritas Internacional” que as nossas organizações diocesanas puderam transpor obstáculos internacionais e fazer chegar a Timor ajudas que lhe queríamos enviar. Mais do que explicar a organização, importa sublinhar o carácter diocesano desta instituição tão querida da Igreja. Vale a pena repetir: a “Cáritas Diocesana” é a voz e a mão do Bispo, Pastor da Diocese, para dar resposta diocesana às carências que sensibilizam a Diocese, para educar no serviço da caridade, para dar corpo às iniciativas de ajuda em que o Bispo deseja envolver toda a família diocesana. A Cáritas não é, pois, um movimento, nem uma associação, muito menos uma empresa. A Cáritas é um serviço diocesano, é um serviço do Bispo.

3. Que serviço?
A cáritas é serviço dos pobres, e este é fundamental na Igreja. O termo “fundamental” não se emprega aqui somente com o sentido de “importante”. A palavra e o exemplo de Jesus, e também a conduta da Igreja dos Apóstolos, mostram-nos que o serviço dos irmãos, e primeiramente dos mais pobres, faz parte da natureza da Igreja. Assim como não há comunidade cristã sem a Palavra de Deus e sem a celebração dos Sacramentos, também não há verdadeira Igreja de Cristo sem o serviço do próximo: “Se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós vos deveis lavar os pés uns aos outros” (Jo 13,14). A primeira comunidade cristã soube viver esta dimensão fundamental da fé: “Entre estes não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam–no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um conforme a necessidade que tivesse” (Act 4, 34-35). Conhecemos da história da Igreja as inúmeras realizações que foram sendo encontradas no desejo de pôr em prática o mandamento do Senhor: hospícios de peregrinos, hospitais, misericórdias, asilos, conferências vicentinas, creches, lares de idosos… Esta vontade sistemática de dar em cada tempo a solução apropriada às necessidades da ocasião, demonstra-nos claramente que a Igreja nunca se limitou a recordar a cada fiel a prática individual da caridade, mas sempre sentiu o apelo e o dever de dar respostas organizadas e públicas às carências que ocorrem em cada século e nos diversos lugares. Estas respostas são como que os milagres de Jesus: sinais do amor de um Deus que é Pai de todos; ao mesmo tempo que se tornam escola para os cristãos que as animam e apelo profético para a comunidade que as sustenta. Daqui se deduzem dois princípios pastorais que convém salientar: A Igreja não organiza serviços caritativos apenas supletivamente, como que a remediar o que outros não fazem; ela organiza a sua assistência caritativa por obrigação que tem e por direito público que não descuida. Conclui-se também que toda a comunidade cristã, particularmente a paróquia, tem o dever de organizar a sua prática caritativa, de modo que ela integre a vida paroquial tal como a liturgia ou a catequese.

4. As indicações do Sínodo
A nossa Diocese não tem esquecido estes princípios. Por isso, nas “Constituições” do recente Sínodo Diocesano, depois de se expor a doutrina acima referida, ficou determinado: “Que se encontrem, quer a nível diocesano quer paroquial, formas organizadas de acolher e de responder aos problemas dos nossos contemporâneos”. E logo de seguida: “Que se proporcionem, em cada comunidade cristã, espaços de encontro e diálogo sobre os vários problemas que afectam a comunidade e a sociedade onde se vive”. (Constituições Sinodais, II Parte, Cap. II, n. 1). As paróquias têm diante de si vários caminhos para responder a esta exigência da fé e da sociedade. Sem querer privilegiar algum deles, o Bispo da Diocese lembra, no entanto, a todos os pastores e aos seus Conselhos Pastorais a necessidade de garantirem na sua comunidade a existência e o funcionamento, em moldes actualizados, de um serviço de acção caritativa. Apoiar nas paróquias esta realização, qualquer que seja a índole do grupo local, eis a tarefa primeira que se pede à Cáritas Diocesana.

5. A Missão da Cáritas Diocesana
Na sequência de quanto fica dito nesta Nota Pastoral, que esperam o Bispo e a Diocese da nossa Cáritas? Primeiramente que ela seja promotora do espírito evangélico que nos é recordado pelo Capítulo 25 do Evangelho de São Mateus: “Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber… estava doente e fostes visitar-me”. Os ensinamentos da Cáritas, porém não se cumprirão em lições escritas, mas na prática dos actos de misericórdia. Organizando algumas iniciativas, apoiando outras já existentes, motivando os diocesanos para o compromisso social, a Cáritas deve ser uma escola de fé, esperança e amor. Seguidamente, esperamos que a nossa Cáritas se organize de tal modo que possa, sem demora, dinamizar a resposta apropriada e generosa a situações de carência colectiva, por vezes catástrofes inesperadas, a que os cristãos não podem ficar indiferentes: são disso exemplo as cheias do Mondego, a praga da toxicodependência ou a chaga da prostituição. Uma outra tarefa pedimos, com particular empenho, à Cáritas Diocesana de Coimbra: ser entre nós a sentinela do amor serviçal. Significa isto que a Diocese de Coimbra quer estar atenta aos tempos que correm para neles reconhecer atempadamente as novas situações de pobreza, alertar os cristãos para elas e lançar iniciativas de resposta evangélica: a atenção aos imigrantes ou o acolhimento aos doentes ambulatórios são disso um exemplo. Esperamos da nossa Cáritas o desempenho desta missão.

6. “Mundo Solidário, Mundo de Paz”
O “Dia Cáritas” do presente ano — 3 de Março — é celebrado sob o tema “Mundo solidário, mundo de paz”. Efectivamente, semeando solidariedade (e essa é a missão da Cáritas) somos construtores da paz. Onde falta a solidariedade, geram-se egoísmos, que logo abrem caminho à exploração e à violência. Educando as pessoas para a solidariedade, mudam-se os corações; e é neles que nasce o amor do próximo e a paz. A acção social e caritativa da Igreja, na sua dupla vertente de força evangelizadora e mediadora dos bens de Deus é caminho privilegiado para a conversão dos corações. Sendo escola de amor cristão, a Cáritas é obreira da paz. A este propósito, citemos o Santo Padre, na sua recente Mensagem para a Quaresma de 2002: “É este amor (concreto) que a Igreja testemunha, através de numerosas instituições, cuidando dos doentes, marginalizados, pobres e explorados. Deste modo, os cristãos tornam-se apóstolos de esperança e construtores da civilização do amor” (nº 4).

7. Congratulações e apelo
Antes de concluirmos esta Nota Pastoral, é justo que nela se testemunhe o esforço que a todos merece a Cáritas Diocesana de Coimbra. Concorrem neste depoimento os fiéis da Diocese, bem como os seus responsáveis, e também outras entidades que conhecem o volume da obra feita e a qualidade dos serviços prestados. Que Deus continue a iluminar e a encher de ânimo cristão todos quantos dirigem as múltiplas instituições da nossa Cáritas, nelas trabalham ou delas recebem apoio. À Diocese dirijo um apelo bem sincero: Não subestimemos este dom que outros nos preparam; saibamos agradecê-lo, conhecendo-o melhor e acompanhando-o com zelo. Partilhemos as iniciativas da Cáritas, correspondamos às suas propostas, dialoguemos sobre os seus rumos. Neste “Dia Nacional Cáritas”, esteja presente na oração este ramo da nossa árvore diocesana, por graça de Deus bem carregado de frutos.

19 Fev. 2002

Albino Cleto, Bispo de Coimbra

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