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Documento produzido pela Cáritas de Coimbra em 2002

A Caritas de Coimbra

A Cáritas Diocesana de Coimbra dirige a sua acção essencialmente em duas vertentes: para a promoção global das comunidades e para a resposta às pessoas concretas. É nossa convicção que o homem nunca é um ser isolado, mas um ser que vive estruturalmente numa comunidade, e que reage mais positiva ou mais negativamente conforme os estímulos económicos, sociais e culturais que recebe da(s) sua(s) comunidades. Por isso é absolutamente essencial promover nas comunidades uma cultura de solidariedade, de atenção ao outro, de serviço ao bem comum, de gratuitidade. E é tanto mais necessário promover estes valores quanto as forças da cultura predominante veiculam o “salve-se quem puder” e as atitudes que mais fazem notícia são a corrupção, a violência e o desprezo pela vida do outro.

Por outro lado, a Cáritas sabe que é o homem – sempre o homem concreto, cada pessoa humana – o verdadeiro centro e fim do seu agir. Parafraseando o Concílio, onde quer que esse homem se encontre empobrecido, abandonado, marginalizado, doente, oprimido, ultrajado na sua dignidade, aí o deve ir procurar, encontrar e confortar a caridade cristã, com o carinho e as obras concretas de amor.

As muitas acções que a Cáritas de Coimbra faz na Diocese testemunham isto mesmo. Elas estendem-se das crianças aos idosos, dos jovens aos doentes, da reabilitação física aos doentes de SIDA, da formação profissional às minorias étnicas… Mas, ao mesmo tempo, a Cáritas preocupa-se com a formação das pessoas nas áreas da saúde, da higiene alimentar, do alcoolismo, do trabalho comunitário com idosos ou doentes, da prevenção da droga, do uso humanizador da sexualidade, da disponibilidade para o voluntariado, em meio institucional ou na própria comunidade. De resto, quer a nível comunitário, quer a nível das pessoas em concreto, a acção da Cáritas pretende ser sempre numa dupla perspectiva: tentar curar os sofrimentos já existentes e prevenir o aparecimento de outros… Pode-se dizer, com inteira verdade, que a Cáritas de Coimbra está a trabalhar mais intensamente nos locais onde é mais difícil (por exemplo, nas comunidades mais desertificadas ou nos bairros mais problemáticos da cidade de Coimbra), e nos problemas mais difíceis: toxicodependência, prostituição, minorias étnicas, como os ciganos, Sida…

A Cáritas sabe, é claro!, que não se pode nunca substituir às comunidades cristãs “de base”, nomeadamente as paróquias. Muito do trabalho da Cáritas situa-se, aliás, nessa sensibilização das paróquias para uma assunção pastoral forte da sua própria acção sociocaritativa. Mas, tal como na catequese ou na liturgia, parece que também a acção sociocaritativa deve ser feita em comunhão com toda a Igreja diocesana e com a igreja universal! Diríamos até que a comunhão é o primeiro e mais profundo teste da verdadeira caridade… A promoção desta comunhão constitui, pois, uma outra vertente do trabalho da Cáritas de Coimbra.

Por mais esforçada que seja a nossa acção, os problemas são de tal maneira profundos e as mentalidades são de tal maneira resistententes à mudança, que muito parece ficar sempre por fazer. Quando avaliamos no imediato, ou quando olhamos a nossa impotência perante algum problema concreto, muitas vezes fica a sensação de que estamos a enfrentar um trabalho impossível. Mas, ao avaliarmos o nosso trabalho ao longo das últimas décadas, aparece-nos claro que estamos a ser verdadeiros agentes de transformação das nossas comunidades. (Cáritas de Coimbra, 2002)