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04.10.2009 – XXVII DOMINGO COMUM

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM
Gen 2, 18-24; Sl 127; Hebr 2, 9-11; Mc 10, 2-16

Um Reino que permeia todos os meandros da humanidade

         Aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova e perguntaram-Lhe: «Pode um homem repudiar a sua mulher?» Jesus disse-lhes: «Que vos ordenou Moisés?» Eles responderam: «Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para se repudiar a mulher». Jesus disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei. Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu». Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo sobre este assunto. Jesus disse-lhes então: «Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério». Apresentaram a Jesus umas crianças para que Ele lhes tocasse, mas os discípulos afastavam-nas. Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis: dos que são como elas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». E, abraçando-as, começou a abençoá-las, impondo as mãos sobre elas. (Marcos)

 

Um Reino que permeia todos os meandros da humanidade

            Jesus terá sido seguramente confrontado mais do que uma vez com a questão do matrimónio. Aliás, Marcos regista que os discípulos insistem em interrogá-lo sobre o assunto. Desde logo, a sexualidade radica no mais profundo da natureza humana, e a própria religião, enquanto produto da consciência humana, tem na sua génese contextos sexuais, como deuses e cultos da fertilidade. Depois, o modo como as religiões e as sociedades socializaram a sexualidade está longe de ser igual em todas as sociedades e mais longe ainda de ser pacífico dentro de cada uma delas. Mesmo numa religião como o judaísmo, que tinha chegado à formulação do casamento como “uma só carne” (= “uma só pessoa”), o que dava à vivência da sexualidade um carácter de unidade e continuidade entre duas pessoas de sexo diferente, mesmo aí as discussões eram grandes. Para já, entre esta formulação teórica de “uma só carne” e a realidade vivida ia uma distância enorme, distância que a Lei regulamentava com o direito dos homens se poderem divorciar das mulheres. As mulheres, no judaísmo, não tinham esse direito! Mas tinham-no entre diversos povos de cultura grega e romana…
            De algum modo, com maior ou menor abrangência, envolvendo os direitos de ambos os sexos ou só de um, o divórcio era uma prática aceite jurídica, social e religiosamente no mundo da época. É um acto tão comummente aceite que os apóstolos, na versão de Mateus, quando ouvem Jesus dizer que o matrimónio é indissolúvel, concluem de imediato: “então se a situação do homem diante da mulher é essa, é melhor ele não se casar!” (cfr. Mt 19,10).
            Entre os judeus predominavam duas escolas nesta matéria: uma mais rigorista, para a qual só graves problemas podiam levar ao divórcio, e outra mais laxista, para a qual um pouco de sal a menos na sopa já poderia ser uma questão a considerar!… A tensão entre estas duas escolas é relativamente grande e a pergunta feita a Jesus (“para o pôr à prova”, isto é, para o “entalar”) tem como objectivo colá-lo a uma destas escolas. A resposta de Jesus, não sendo uma novidade do ponto de vista teórico, pois apenas se limita a citar as Escrituras, aplicada à vida concreta torna-se mesmo uma novidade efectiva. E o reforço de que esta posição de Jesus era para a vida concreta, e não uma teoria religiosa abstracta, é dado pelo evangelista com a insistência nos próprios casos concretos: “quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira”. Alias, Marcos, que escreve para leitores não judeus ou nem todos judeus, complementa com a situação contrária: “e com a mulher é a mesma coisa: se ela repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério”.
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