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11.10.2009 – XXVIII DOMINGO COMUM

XXVIII DOMINGO do tempo comum

Sab 7, 7-11; Sl 89; Hebr 4, 12-13; Mc 10, 17-30

 Uma proposta para a felicidade!

 

 

 

 Ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e Lhe perguntou: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?» Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude». Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!» (…)(Marcos)

Uma proposta para a felicidade!

            Marcos, logo no início deste texto, volta a lembrar-nos que Jesus está a caminho. E já sabemos para onde caminha: para a Paixão e Morte em Jerusalém, como Ele próprio já anunciou duas vezes e vai dizê-lo novamente logo depois dos episódios narrados no Evangelho deste Domingo. Como já sabemos também, Marcos concentra nesta caminhada os ensinamentos de Jesus dirigidos especificamente aos discípulos (e, por extensão, à Igreja).

            Para percebermos esta “extensão à Igreja”, vale a pena referir um pormenor: ao contrário do texto como aparece na liturgia que diz que “um homem se aproximou correndo”, as traduções bíblicas não dizem “um homem”, mas sim “alguém”! É um pormenor importante, porque em Mateus este rico seria um jovem; em Lucas, um chefe; em Marcos, indefinidamente, um “alguém”, que pode até ser uma mulher… Embora esteja a falar sobre uma pessoa concreta, num encontro concreto com Jesus, Marcos está decididamente a pensar já nos cristãos depois da morte de Jesus; recusa-se, por isso, a identificar esta pessoa, seja em termos de idade, de sexo ou de posição social, para deixar apenas um “alguém” onde cabe cada um de nós! De resto, apenas Marcos diz que este alguém se “ajoelhou diante de Jesus”, o que aponta claramente para um gesto cristão pós-pascal, de adoração dos cristãos a Cristo Ressuscitado. Por outras palavras, a preocupação fundamental de Marcos é dizer aos cristãos que devem viver desprendidos dos bens materiais, como meta da perfeição. Esta é mais uma exigência para todos aqueles que querem entrar no Reino de Deus, a somar às exigências de confissão da fé, humildade, simplicidade, fidelidade (que vimos nas últimas semanas) e serviço (próxima semana).

            Mas não é só, e talvez nem principalmente, um desprendimento dos bens materiais! Para os judeus as riquezas materiais eram sinal de uma bênção especial de Deus. Portanto este “alguém” rico que vem ter com Jesus não só dá sinais, pela sua vida exemplar, de que ama Deus, como tem um sinal visível e socialmente aceite de que é amado de Deus. Quem mais do que ele poderia ter garantida a vida eterna?! Mas se a tinha assim tão garantida, donde lhe vem aquela angústia que o leva a “correr” e a ajoelhar-se diante de Jesus?!

             Jesus, quando o olha com simpatia, não pode ter deixado de se fazer a si mesmo esta pergunta…: como é que é possível alguém estar tão cheio de coisas (religiosas e materiais) e sentir-se tão vazio?! Aliás, para sermos rigorosos, devemos acrescentar que quando Jesus lhe propõe que venda os bens, nem sequer ainda tínhamos notícia de que era alguém materialmente rico; tínhamos notícia, sim, de que era alguém escrupulosamente cumpridor dos mandamentos! Esta pessoa, voltamos a reforçá-lo, antes de ser materialmente rica, é religiosamente rica! E, todavia, não é feliz! Falta-lhe uma coisa: fazer a experiência da liberdade dos filhos de Deus, tal como a viveu e a ensinou Jesus! O ponto central da proposta que Jesus lhe faz é qualquer coisa como isto: esvazia-te disso tudo, liberta-te, e vem fazer uma experiência de vida comigo! Jesus não lhe exige que se desprenda dos bens porque os bens sejam um mal, nem que os dê aos pobres porque isso seja um bem, mas porque é necessário que esta pessoa crie na sua vida tempo para estar com Jesus e no seu coração um espaço para seguir o estilo de vida de Jesus. Como possibilidade de ser feliz!

            A proposta que Jesus lhe faz é uma proposta para a felicidade, que toda a religião, toda a moral e toda a riqueza não conseguiram criar! O centro da felicidade humana está em fazer esta experiência de seguir Jesus! A “salvação” perdida por esta pessoa não foi necessariamente em relação à eternidade; foi sim, de modo muito concreto e imediato, a salvação da sua própria vida terrena!

            E recordemos por onde começámos: Marcos está a falar para nós!

 

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