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20 de Dezembro – IV Domingo do Advento

 

Deus vem ao encontro da humanidade

IV DOMINGO DO ADVENTO
Miq 5, 1-4a, Sl 79; Hebr 10, 5-10; Lc 1, 39-45

Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor». (Lucas)

Deus vem ao encontro da humanidade

         Lucas é o autor sagrado que mais dilata os chamados “evangelhos da infância”, isto é, os relatos que giram em torno do nascimento de Jesus de Nazaré. Como já dissemos noutras ocasiões, a preocupação central destes relatos não é contar-nos como é que esses acontecimentos se deram, mas sim o que significa que eles se tenham dado.

         Isto não quer dizer que não tenha havido aqui acontecimentos reais. Por exemplo, é provável que Maria, prudentemente, se tenha afastado de Nazaré durante o tempo da gravidez, o mais “apressadamente” possível, dado que de facto estava a ser mãe solteira, e isso era crime punível com a morte à pedrada no meio da rua (…como ainda hoje acontece nalguns lugares do mundo, normalmente por causas religiosas). Outros preferem dizer que Maria foi, “apressadamente”, para poder ajudar Isabel, porque esta estava grávida em idade avançada e precisaria dessa ajuda. Também é possível. Mas, em boa verdade, afinal não sabemos porque é que foi, nem sequer se foi. Sabemos é que para S. Lucas o nó que ata o Antigo Testamento ao Novo Testamento são duas personalidades históricas concretas: João Baptista e Jesus de Nazaré e que, para S. Lucas, esse nó, essa ligação, existe já desde o seio materno de ambos.

         Percebemos então que o verdadeiro encontro que aqui se dá não é entre duas mulheres, mas entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento, entre a Antiga Aliança e a Nova Aliança. O verdadeiro encontro é entre João e Jesus, ambos ainda nos respectivos ventres maternos. Aliás, não é Isabel quem exulta ao ouvir a saudação de Maria, mas é João que salta de alegria no seu seio! E o Evangelho repete duas vezes que foi João que saltou de alegria ao encontrar-se com Jesus.

         Podemos, todavia, perguntar-nos: mas donde vem esta alegria de João, se ele representa o passado, o antigo Testamento, a antiga Aliança, e se Jesus representa a novidade, o novo Testamento, a nova Aliança? Parece que João teria mais razões para ressentimentos do que para alegrias! Ora aqui, precisamente, reside a chave do Evangelho da Missa de hoje: para S. Lucas, Jesus é o salvador também do Antigo Testamento; por Ele, com Ele e n’Ele, toda a humanidade, desde Adão, é conduzida ao seio de Deus Pai. Por isso Isabel lhe chama seu “Senhor”. Jesus de Nazaré, desde a sua concepção, é o Senhor de toda a História, também da História antes dele.

         João (que representa todo o Antigo Testamento) alegra-se porque se sente finalmente salvo, redimido, readmitido à dignidade de amigo de Deus, dignidade que tinha sido perdida pela infidelidade à Aliança que Deus fizera com o povo de Israel.

         Depois, é Jesus quem vai ao encontro de João, ou seja, é a salvação de Deus quem vai ao encontro da humanidade perdida pelo pecado. É Deus quem vai ao encontro do homem. Neste encontro entre Jesus e João, S. Lucas deixa claro que o encontro final entre Deus e a humanidade não é uma iniciativa, uma conquista ou um mérito dos homens, mas é uma iniciativa amorosa de Deus. É Deus quem vem ao encontro da humanidade e lhe trás a alegria da salvação.

         Nesta perspectiva, o cântico de Isabel dirigido a Maria é certamente um louvor à fé e à piedade de Maria, que lhe é devido com toda a justiça, mas é também a proclamação de que em Jesus se cumprem todas as promessas de Deus. Trata-se de um acto de fé que só é possível pela acção do próprio Espírito Santo, como também S. Paulo recordará numa das suas cartas. Por isso Lucas diz que Isabel ficou “cheia do Espírito Santo”, e só assim, “cheia do Espírito Santo”, ela poderia aceitar Jesus como o “Senhor” de toda a História. Mas o Espírito Santo, convém recordar, é um Dom de Jesus Ressuscitado! Quando Isabel fica cheia do Espírito Santo, fica cheia do Espírito de Jesus Ressuscitado. Neste encontro das duas mulheres e dos dois meninos proclama-se o Senhorio de Jesus de Nazaré, Senhorio que é motivo de alegria para todos os que o aceitam, em todos os tempos, como Maria, porque é o cumprimento final de todas as promessas de Deus em favor da inteira humanidade.
 
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