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25.10.2009 – XXX DOMINGO COMUM

XXX DOMINGO COMUM
Jer 31, 7-9; Sl 125; Hebr 5, 1-6; Mc 10, 46-52

De pantufas, sim, mas certeiro…

            Quando Jesus ia a sair de Jericó com os discípulos e uma grande multidão, estava um cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu, a pedir esmola à beira do caminho. Ao ouvir dizer que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim». Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem piedade de mim». Jesus parou e disse: «Chamai-o». Chamaram então o cego e disseram-lhe: «Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te». O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: «Que queres que Eu te faça?» O cego respondeu-Lhe: «Mestre, que eu veja». Jesus disse-lhe: «Vai: a tua fé te salvou». Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho. (Marcos)

De pantufas, sim, mas certeiro…

            É este o último acontecimento significativo na caminhada que Jesus faz desde Cesareia de Filipe até Jerusalém; encerra-se aqui, por isso, uma grande secção do Evangelho de S. Marcos, a secção em que Jesus ensina e prepara especificamente os seus discípulos para “entrarem no Reino”. A secção começa com Pedro a proclamar que Jesus é o “Messias” e termina com este cego a proclamar que Jesus é o “Filho de David”; (no final da próxima secção – com Jesus já morto na cruz – o centurião vai confessá-lo “verdadeiramente Filho de Deus”). Estamos, portanto, perante um texto fundamental na estrutura do Evangelho de S. Marcos.
            Ao longo da caminhada para Jerusalém, e apesar de Jesus se ter transfigurado diante de três dos discípulos, e de ter anunciado por três vezes que ia sofrer e morrer, e de ter feito muitos outros ensinamentos, vimos: Pedro a tentar mudá-Lo de rumo; os discípulos a discutirem entre si sobre qual deles era o maior; os discípulos a impedirem os que não eram “do seu grupo” de agirem em nome de Jesus; os discípulos assustados perante a exigência de fidelidade no casamento; alguém recusar-se a segui-Lo por causa das riquezas; Tiago e João a tentarem um suborno afectivo para passarem à frente dos outros…
            E de repente, de pantufas, um cego dá um pontapé neles todos! E que pontapé; e que certeiro! Atira fora a capa, dá um salto, e vai ter com Jesus. E apesar de Jesus lhe ter dito “vai”, ele fica a segui-Lo, quando outros se foram apesar de Jesus lhes ter dito “vem comigo”.
            Evidentemente, Marcos encerra toda esta secção com o ensinamento último das atitudes e dos comportamentos próprios dos discípulos de Cristo. O professor é um cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu. Em boa verdade, nem o nome lhe dá grandes direitos a ensinar seja o que for, porque o nome é de origem estrangeira: que pode um estrangeiro ensinar a judeus como Pedro, Tiago, João, ou mesmo a judeus como aquele homem que tinha cumprido todos os mandamentos desde a juventude?! Mais para mais, cego! E pobre (pedia esmola para sobreviver)! Marginalizado, evidentemente, “à beira do caminho”. Veja-se por que ângulo se vir, ele está a mais; se estiver calado, passa na indiferença; mas se ousa abrir a boca, estorva! Por isso muitos o repreendiam para que ele se calasse! E pensavam que estavam a fazer um dever: gentalha não deve perturbar os grandes destinos da História!
            Mas já o pontapé ia no ar!; de pantufas, mas certeiro: primeiro, reconhecendo-se necessitado de piedade; depois, pedindo-a a quem lha pode conceder verdadeiramente, como seu Rei; logo depois, ultrapassando os respeitos humanos para dar exclusivamente o respeito ao Filho de David; e com persistência. Libertando-se do que estorva (capa), colocando energia na vontade (salto), e tomando o rumo certo na direcção de Jesus de Nazaré. E quando, no final deste processo, recupera a vista, este homem diz-nos ainda que quando Jesus nos envia (“vai”), só temos um caminho a tomar: o do próprio Jesus. E que caminho (o evangelista já nos lembrou repetidamente que vai direitinho à cruz, em Jerusalém)!…
            Mas neste episódio, o cego não é o único professor. Jesus também ensina…, e ensina dizendo apenas isto: “Chamai-o”! Foi quanto bastou para que os polícias da ordem social e do respeito humano mudassem todo o seu comportamento: em vez de o repreenderem, agora incentivam-no, suscitam-lhe força e coragem! Talvez que se nós apostássemos na atenção aos pobres e marginalizados com esta força de Jesus (“chamai-os”) também mudassem depois muitas atitudes e comportamentos sociais em relação a eles…
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