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27.09.2009 – XXVI DOMINGO COMUM

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Num 11, 25-29; Salmo 18; Tg 5, 1-6; Mc 9, 38-43.45.47-48

Já que falamos nisso…

            João disse a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós. Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar. Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga. E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga». (Marcos)

 

Já que falamos nisso… 

            Apesar de Marcos referir explicitamente um diálogo entre Jesus e João, não é verosímil que antes da paixão, morte e ressurreição de Jesus andasse alguém a expulsar demónios em nome do mesmo Jesus! Como também não é verosímil que o próprio Jesus tenha usado para se referir a si mesmo o título Cristo!, como se lê: “se alguém vos der um copo de água, por serdes de Cristo…”. De resto, é bom lembrar que este texto do evangelho se situa já depois da confissão de Pedro em Cesareia de Filipe, quando as multidões já tinham dispersado, os próprios discípulos titubeavam e as armadilhas lançadas a Jesus eram cada vez mais evidentes. Só quem fosse parvo se atreveria agora a expulsar demónios em nome de Jesus! Já nem os próprios apóstolos estavam para aí virados, quanto mais alguém que não andava com eles, e que parece que nem o próprio Jesus conheceria!
 
            Resumindo, Marcos está a falar de alguém que, já depois da Páscoa, anda a expulsar demónios em nome de Jesus, mas que não anda com o grupo dos Apóstolos, e a quem o grupo dos Apóstolos, por isso mesmo, procurou impedir que o fizesse! Talvez ao próprio S. Paulo! Mas, seguramente, todos os cristãos não-judaizantes, não circuncidados, não-judeus, que acreditavam em Jesus como o Filho de Deus e O anunciavam até aos confins do mundo… Aliás, só assim se entende o argumento colocado na boca de Jesus: “quem vos der de beber um copo de água por serdes de Cristo, não perderá a sua recompensa”. Ora isso mesmo, dar aos cristãos de Jerusalém pão “por serem de Cristo”, foi o que fizeram os cristãos não-judeus da Galácia e de Corinto (que não andavam no grupo deles) sob o empenho pessoal do próprio Paulo.
 
            Marcos coloca este diálogo entre Jesus e João na casa de Cafarnaum, ainda na mesma cena que lemos no Domingo passado,   em que Jesus põe uma criança à frente dos Apóstolos e lhes diz que quem quiser ser o maior tem que ser assim como aquela criança. A lição de fundo é ainda essa da humildade, da simplicidade, do acolhimento… Mas, chegado aqui, Marcos como que faz um inciso do tipo, “já que falamos nisso, como avaliamos esta guerra que fazemos, nós cristãos-judeus, aos cristãos provindos do paganismo? Somos “maiores” do que eles? E se em alguma coisa somos maiores, não estaremos então a escandalizá-los com a nossa separação, a eles que são mais pequeninos, mas que crêem também em Jesus?”.
Já agora, o motivo que João invoca para tentar impedir um dito sujeito de agir em nome de Jesus não é da natureza da fé, nem da doutrina, nem da bondade, nem da sensibilidade… É uma mera fronteira entre uma coisa chamada “nós” e outra coisa chamada “outros”! De algum modo, faz parte da natureza humana precisarmos de um “nós”, onde possamos sentir-nos seguros, confortados, em relação, e precisarmos de uns “outros”, em relação aos quais nos possamos identificar como únicos, nos possamos diferenciar, nos possamos auto-prestigiar… Mas quando esta característica se transforma em fronteira intransponível, quando as diferenças são generalizadas como oposições, quando características particulares dão lugar a estereótipos, quando o desconhecimento fundamenta o preconceito, então é a própria grande fraternidade humana que está em causa, e aparece o racismo, a xenofobia, o sexismo… e todo o tipo de ódios, violências e indiferenças assassinas. Ora quantas fronteiras destas não fazemos nós todos os dias?! Até entre dos diversos grupos pastorais da Igreja, entre os diversos movimentos religiosos… Jesus exige outra atitude: “quem não é contra nós, é por nós”.

 

 

 

 
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