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Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social

Mensagem de D. Carlos Azevedo para o Dia Cáritas de 2009

A Caritas está disponível para apoiar a criação e funcionamento de grupos de acção sócio-caritativos, representativos das diversas zonas da paróquia, que tenham como objectivos conhecer os problemas sociais a partir das relações de proximidade e intentar as respectivas soluções. Procurem os membros dos grupos recorrer à formação disponível, ser assíduos às ajudas em ordem a uma espiritualidade cristã na qual a dimensão social obrigatoriamente se inclui. Além do conhecimento objectivo da realidade e do tratamento dos dados, prestam as ajudas possíveis e exercem a mediação junto de entidades que possam contribuir para as soluções.

Mensagem para o Dia Cáritas

 

“Se não tiver caridade nada sou” (1 Cor 13, 2)

 

Sem caridade não existimos como cristãos, afirma são Paulo com a força apostólica do seu testemunho. De facto, ainda que possuidores do dom da profecia, detentores de ciência, com fé capaz de transportar montanhas ou generosidade motivadora da oferta dos bens aos pobres, sem caridade nada somos. Comecemos por olhar a presente realidade, com esta identidade que nos marca, em ordem a lançar sobre as situações a luz do Evangelho e a encontrar vias operativas que hoje sirvam a verdadeira caridade.

 

1. O agudizar de problemas sociais decorrentes da crise financeira e económica e resultantes de opções políticas erradas, algumas persistentes há décadas, exige uma leitura atenta, cuidadosa e profunda da realidade. Agravam-se as situações de pobreza e de precariedade do emprego, desaparecem oportunidades de emprego e cresce o desemprego com despedimentos massivos, seja por falta de viabilidade económica das empresas, seja por oportunismo lesivo dos trabalhadores. Aumentam as desigualdades, gera-se exclusão social, paira o risco de uma implosão social, com perda da paz e levanta-se um acicate para movimentos de restrição do regime democrático…


O conhecimento dessa realidade é débil nos meros dados estatísticos, mas ganha cor e forma graças aos contactos personalizados e solidários vividos por cada cristão e por cada paróquia, dificilmente recolhidos a nível diocesano e a nível nacional.


A Cáritas vem desenvolvendo em todo o território nacional, não obstante variar o peso da presença de diocese para diocese, um serviço de sensibilização para os reais problemas sociais, quer através de campanhas motivadas por situações urgentes, quer através de manutenção de equipamentos sociais, ou ainda através de ofertas de formação para agentes de pastoral social.


As circunstâncias evidenciam as vantagens de uma implantação paroquial, inserida ou animando grupos de acção social paroquiais. O trabalho de animação local apela para as responsabilidades sociais dos cristãos e das comunidades cristãs, conduz à elaboração de propostas que possam chegar aos centros de decisão política e permitir a solução concreta dos problemas, sem muitas mediações perturbadoras da agilidade das respostas.

 

2. O vigor criativo da caridade assume, neste contexto, uma dimensão social como marca distintiva dos cristãos, capaz de afastar qualquer conceito desvirtuado de redução assistencial ou de comiseração sentimental. Ao escolher, em pleno Ano Paulino, o lema “Se não tiver caridade nada sou” evidencia-se a dimensão integral e existencial da virtude. Nós somos o amor que nos rodeia e nos faz ser o que somos. E somos o amor que exercemos na relação com os outros. Sem caridade não somos nada como pessoas.


O que dá valor, o que é caro à vida humana são os laços dos que nos são caros e para quem nós somos caros. Quando universalizamos os gestos de caridade e nos desprendemos da reciprocidade atrevemo-nos a ser em Deus, sumo bem, máxima bondade que a todos quer salvar, já, na dignidade de filhos. Ter caridade: é atender à amplitude dos problemas com suas incidências políticas, sindicais, empresariais e associativas, é participar em processos de desenvolvimento que permitam a cada ser humano ser amado.


Torna-se, no tempo actual, mais evidente a urgência de coordenação da acção sócio-caritativa das diversas organizações e instituições. A Cáritas tem aptidão para servir esta fundamental sinergia.


A Cáritas é chamada a ser expressão estrutural da Igreja, forma organizada, operativa e dinâmica do modo cristão de viver, junto dos mais pobres e excluídos da sociedade. Em cada diocese, em comunhão com o Bispo, a Cáritas é órgão integrador e dinamizador da pastoral sócio-caritativa. Através da Caritas, o Bispo pode promover e garantir a atenção da sua Igreja particular aos irmãos mais necessitados.

 

3. No seguimento desta visão cristã, podem apontar-se como linhas de acção para a Cáritas:


– viver a acção sócio-caritativa como parte essencial da acção evangelizadora e celebrativa da fé, colaborando na consciencialização de todos os membros da comunidade para uma coerência evangélica;


– apoiar e acompanhar grupos paroquiais de acção sócio-caritativa;


– exercer o amor pelos pobres unido ao compromisso com a implantação da justiça e a transformação libertadora dos males da sociedade, promovendo formação competente, discernimento das causas reinantes e interpelação das consciências;


– atender à fraternidade universal, rosto cristão da vida global, conjugada com a prontidão de real partilha de proximidade;


– promover o espírito de gratuidade e voluntariado, facilitando o crescimento espiritual, o trabalho em equipa e a eficaz coordenação dos meios e recursos;


– encontrar soluções inovadoras para os problemas verificados pelo Núcleo de Observação Social (NOS).


A Caritas está disponível para apoiar a criação e funcionamento de grupos de acção sócio-caritativos, representativos das diversas zonas da paróquia, que tenham como objectivos conhecer os problemas sociais a partir das relações de proximidade e intentar as respectivas soluções. Procurem os membros dos grupos recorrer à formação disponível, ser assíduos às ajudas em ordem a uma espiritualidade cristã na qual a dimensão social obrigatoriamente se inclui. Além do conhecimento objectivo da realidade e do tratamento dos dados, prestam as ajudas possíveis e exercem a mediação junto de entidades que possam contribuir para as soluções.


É fundamental, para o exercício de uma caridade evangélica, contribuir para a consciência eclesial dos problemas sociais, a nível diocesano e nacional, promover reflexões sobre os dados recolhidos, chamar a atenção para problemas por solucionar, criar propostas e exercer influência para conseguir as respostas necessárias.

 

Conclusão


Para que a necessidade imperativa de São Paulo, relativamente à caridade, seja vivida pelas comunidades cristãs muito contamos com a Caritas, nos diversos níveis da sua presença. A responsabilidade social dos cristãos e das comunidades paroquiais requer novo vigor, enérgica agilidade, ternura eficaz, generosa partilha. A Cáritas encontre o modo para, em cada contexto, dar passos firmes no cumprimento da sua missão.

 

Lisboa, 3 de Março de 2009


Carlos A. Moreira Azevedo


Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social
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