17 de Outubro – XXIX Domingo do Tempo Comum
Ex 17, 8-13; Sl 120; 2 Tim 3, 14 __ 4, 2; Lc 18, 1-8
Anúncio e oração: lições para a vida cristã
Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo, sabendo de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras; elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça. Assim o homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras. Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina. (Timóteo)
Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar: «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor acrescentou: «Escutai o que diz o juiz iníquo!… E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?» (Lucas)
Anúncio e oração: lições para a vida cristã
A 2ª Leitura é uma das passagens bíblicas mais conhecidas, pela exortação que S. Paulo faz a Timóteo: “Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina”. Paulo chama a isto uma conjuração: “Conjuro-te”. Conjurar é uma palavra que não tem sinónimo fácil, é uma espécie de exortação exorcística, uma exortação que afasta os demónios da tentação de não ser ouvida…, e simultaneamente, uma espécie de exortação que traz em si a força de um castigo se não for cumprida, ao modo de praga, mas pela positiva…, acreditando que a pessoa exortada vai dar cumprimento cabal ao pedido e nenhum mal lhe acontecerá… No caso de Timóteo, o mal seria cair na tentação de não proclamar a palavra e vir a ser julgado diante de Deus e de Jesus Cristo…
Resumindo, S. Paulo vai usar a palavra mais forte que encontra para “amarrar” Timóteo à obrigação de anunciar a Palavra de Deus. Por uma razão simples: “toda a Escritura é inspirada por Deus, e por isso, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a Justiça”.
Chegados a este ponto, é importante colocarmos uma pergunta sobre o lugar da Palavra de Deus na nossa vida religiosa. Se, por exemplo (e o exemplo é real), o grupo de crismandos de uma paróquia quando recebe o Crisma não tem qualquer noção da parábola do filho pródigo ou do bom samaritano, que lugar tem a Palavra na vida destes cristãos em termos de lhes “dar a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Jesus Cristo”?! Uma Igreja que não vive da Palavra de Deus é mera estrutura, que sobrevive de rituais sociológicos e medos ancestrais. Essa Igreja não é, todavia, a Igreja de Jesus Cristo!
Uma palavra também para o Evangelho. Lucas divide a caminhada de Jesus para Jerusalém em duas grandes partes: na primeira, apresenta as exigências que se colocam aos que querem ser discípulos de Jesus; na segunda, refere as características destes discípulos. É desta caracterização dos discípulos que é retirado o texto do Evangelho de hoje. Os discípulos de Jesus são pessoas que oram sempre, sem cessar, sem desfalecer.
Lucas é o evangelista que mais insiste na oração, provavelmente pela influência directa que S. Paulo teve sobre ele. De resto, as expressões “orar sempre” e “orar sem desfalecer” repetem-se sucessivamente nas cartas de S. Paulo. Mas Lucas, ao contar esta parábola, não está só interessado em deixar registado para a posteridade um ensinamento de Jesus; ele quer também dar uma resposta aos cristãos para quem escreve, e que esperavam ansiosamente a 2ª vinda, triunfal, de Cristo…, e que nunca mais acontecia! E como não acontecia, muitos desacreditavam do anúncio dos apóstolos, perdiam a fé, iam-se embora! Daí a interrogação com que Lucas acaba este texto: quando essa vinda acontecer, ainda haverá quem se mantenha na sua expectativa, ou desacreditaram todos?!
Lucas dá uma dupla resposta aos seus leitores: antes de mais, é preciso orar, sempre, pedindo a Deus a Segunda Vinda de Cristo; Depois, é preciso acreditar que Deus, que é Pai, vai responder.
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