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4 de Julho – XIV Domingo do Tempo Comum

Is 66, 10-14c; Sl 65; Gal 6, 14-18; Lc 10, 1-12.17-20

É inteligente passar de Doze a Setenta e Dois

            O Senhor designou setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. E dizia-lhes: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias, nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho. Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’. E se lá houver gente de paz, a vossa paz repousará sobre eles; senão, ficará convosco. Ficai nessa casa, comei e bebei do que tiverem, que o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. Quando entrardes nalguma cidade e vos receberem, comei do que vos servirem, curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: ‘Está perto de vós o reino de Deus’. Mas quando entrardes nalguma cidade e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: ‘Até o pó da vossa cidade que se pegou aos nossos pés sacudimos para vós. No entanto, ficai sabendo: Está perto o reino de Deus’. Eu vos digo: Haverá mais tolerância, naquele dia, para Sodoma do que para essa cidade». Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome». Jesus respondeu-lhes: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do inimigo; nada poderá causar-vos dano. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus». (Lucas)
 

É inteligente passar de Doze a Setenta e Dois

            Na semana passada, Lucas apresentou-nos as exigências para se ser discípulo de Cristo: desprendimento material, desprendimento afectivo, persistência. Hoje, nessa sequência, apresenta-nos Jesus a convocar e a enviar 72 discípulos. Em boa verdade é um texto decalcado do envio dos Doze, que Lucas já apresentara ainda na secção da Galileia. Portanto, em Lucas temos dois envios de discípulos por Jesus: num, Jesus envia os Doze; noutro, Jesus envia 72 discípulos.
 
            O que é que este segundo envio acrescenta em relação ao primeiro? Basicamente, duas coisas: ampliam-se largamente os enviados e universalizam-se os destinatários.
 
            Na tradição bíblica, setenta (ou setenta e duas, conforme os textos) era o número das nações pagãs. Portanto, este número de 72 não alude tanto propriamente aos discípulos convocados quanto aos destinatários deste anúncio: todas as nações!
 
            Agora, fica uma pergunta: mas se Lucas se quer referir às nações, porque atribui o número 72 aos discípulos? A resposta provavelmente será que Lucas quer reforçar a ideia de que a evangelização não é um exclusivo dos Doze, isto é, de um certo grupo identificado como os “chefes da Igreja”, mas de todos os discípulos, incluindo discípulos saídos das próprias nações pagãs! Aliás, o próprio Lucas acompanhou Paulo no anúncio aos pagãos, e nem ele nem Paulo pertenciam ao grupo dos Doze.
 
            Estamos, evidentemente, perante um texto que evoca antes de mais a experiência pós-pascal da Igreja, quando esta começa a evangelizar os pagãos, e o faz sobretudo através de discípulos que não pertencem ao grupo dos Doze (e às vezes nem sequer são bem aceites por estes chefes judaicos). Aliás, Lucas enquadra magistralmente esta necessidade de alargar o leque dos evangelizadores, com uma nota de evidência: a messe (todas as nações do mundo) é grande e os trabalhadores são poucos… É inteligente passar de Doze a Setenta e Dois o grupo dos enviados, e assim Deus no-lo conceda!
 
            Durante a sua missão, os discípulos encontrarão casas e cidades, umas acolhedoras, outras hostis. O seu comportamento será naturalmente diferente conforme os casos, mas o núcleo da mensagem permanece inalterável: “está perto o Reino de Deus”. E porque Deus age com eles, mesmo sendo ovelhas no meio de lobos, ou descalços sobre serpentes e escorpiões, serão grandes os sinais, o mal será destruído e sua alegria justificada. Mas a verdadeira alegria não são os efeitos; a verdadeira alegria reside na causa, na íntima comunhão com Deus, donde arranca todo o seu espírito de missão.
 
            Em dia de celebração de Santa Isabel de Portugal, que viveu e morreu (!) como fazedora de paz, justifica-se ainda uma palavra para esta saudação tão comum nos textos bíblicos, e que é o primeiro mandamento do anúncio do Reino: “A paz esteja nesta casa, …nesta cidade, …contigo…”. É uma paz cujo sentido total é o de felicidade na plena comunhão consigo, com a natureza, com os outros e com Deus. É por essa paz que o Reino se aproxima e se transmite de pessoa a pessoa, de casa a casa, de cidade a cidade. Quem a recusa, recusa o próprio Reino.
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