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10 de julho – 15º domingo comum

Sempre a Igreja

Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos: «Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um. Quem tem ouvidos, oiça». Os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Porque lhes falas em parábolas?» Jesus respondeu: «Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não. (…) Porque o coração deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para não acontecer que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos e compreendendo com o coração, se convertam e Eu os cure’. Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque vêem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram. Vós, portanto, escutai o que significa a parábola do semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um». (Mateus)

 

        O Evangelho de hoje traz-nos uma das várias parábolas do Reino, em Mateus, todas no mesmo esquema: parábola; interrogação sobre a parábola; explicação de Jesus.

        Neste texto, em concreto, precisamos distinguir as lições do contexto, das lições da parábola. Nas lições do contexto, temos que Mateus contrapõe, mais uma vez, os discípulos (a Igreja) aos judeus, fazendo notar que os discípulos percebem a Palavra de Deus enquanto os judeus a ouvem sem entender! É também oportuno referir que os judeus, em Mateus, são sobretudo os fariseus, dado que apenas uma parte deste grupo se reorganizou depois da destruição de Jerusalém por Tito, e se tornou o único opositor judaico ao cristianismo.

        Mas quando chegamos às lições da parábola, a questão já não tem nada a ver com os judeus (fariseus), mas sim com aqueles que de facto ouviram a Palavra de Deus; portanto, já estamos a falar apenas da Igreja, dos cristãos. São estes que Jesus escalona em quatro tipos, consoante a sua resposta à Palavra de Deus.

        Ainda sobre o contexto, pode ser interessante notar: Jesus saiu de casa e foi sentar-se à beira-mar. O mar – mesmo que para os galileus o mar seja apenas o Lago de Tiberíades, e que este seja, de facto, uma fonte significativa do seu rendimento – o mar, dizíamos, representa sempre o reino do mal, do pecado, dos demónios. Para a Igreja, passou a representar o mundo em contra-ponto ao reino de Deus. Jesus desinstala-se, sai do seu aconchego, dos espaços que domina, e chega à fronteira entre o bem e o mal, chega à margem… Aí acumulam-se multidões imensas… E é a elas que dirige a sua palavra, dizendo-lhes muitas coisas…

        Por último, Jesus sobe para um barco. O barco, que dá aconchego, sobrevivência, segurança em relação ao mar ameaçador onde navega, representa a Igreja. Jesus fala às multidões da margem a partir da Igreja, de uma Igreja imersa no mundo, mas totalmente distinta do mundo, contra-ponto a esse mundo. E fala com autoridade de Mestre e Senhor: “sentou-se”, diz o texto!

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