17 de julho – 16º domingo comum
Tocamos o Reino, mas não somos o Reino
Jesus disse às multidões mais esta parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio?’ Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’ ‘Não! __ disse ele __ não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’».
Jesus disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as hortaliças e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos».
Disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado». Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: «Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo». Jesus deixou então as multidões e foi para casa. Os discípulos aproximaram-se d’Ele e disseram-Lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo». Jesus respondeu: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Diabo. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do homem enviará os seus Anjos, que tirarão do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade, e hão-de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, oiça». (Mateus)
Continuamos a ler as parábolas do Reino, do evangelho de Mateus. Temos o mesmo esquema: parábolas às multidões (aqui são três parábolas); incapacidade das multidões compreenderem essas parábolas; explicação em privado aos discípulos (Igreja).
Devemos distinguir aqui entre parábolas e alegorias. As parábolas são um género literário, muito vivo, coloquial e colorido, que normalmente não querem dizer mais do que uma ideia simples a partir duma história. Por exemplo, da parábola do semeador (que lemos na semana passada) poderíamos concluir que Jesus nos alerta para o modo como acolhemos a Sua palavra. Da parábola do fermento, poderíamos concluir que os valores do Reino devem atingir qualitativamente toda a realidade…
Já a alegoria é também uma história, mas o que interessa não é a conclusão (a lição) dessa história, mas sim o que cada elemento/ator dessa história representa na realidade social ou religiosa. Assim, a parábola do trigo e do joio, que lemos hoje, se olharmos à sua explicação, parece ser sobretudo uma alegoria, dado que cada elemento da história é apresentado como representando outra realidade.
Todavia, a alegorização pode ser do próprio evangelista, sobre uma parábola original de Jesus, que não quereria dizer mais do que isto: o absoluto do reino de Deus é só no fim dos tempos; agora é um tempo relativo onde se mistura o trigo e o joio (e mistura-se dentro do próprio coração e da própria vida de cada um, muito mais do que entre pessoas diferentes!). A alegorização feita pelo evangelista sobre a parábola transforma-a num ensinamento para a Igreja, numa catequese que procura abrir outras pistas de reflexão, com incidência na vida concreta das pessoas: “atenção que vós sois a boa semente!; permanecei firmes e não deixeis que o joio vos mate, porque tereis uma recompensa eterna, enquanto os que são joio serão condenados à destruição!”
É evidente que podemos extrair muitos ensinamentos destas parábolas e também nós as podemos alegorizar. Por nós, deixamos apenas esta ideia: somos terreno, somos semente, somos semeadores, somos Igreja…; e tudo isso tem a ver com o Reino de Deus; mas não somos o Reino de Deus; esse, embora presente no mundo, é um absoluto de Deus.
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