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19 de junho – domingo da Santíssima Trindade

O último parágrafo da revelação bíblica

            Moisés levantou-se muito cedo e subiu ao monte Sinai, como o Senhor lhe ordenara, levando nas mãos as tábuas de pedra. O Senhor desceu na nuvem, ficou junto de Moisés, que invocou o nome do Senhor. O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: «O Senhor, o Senhor é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade». Moisés caiu de joelhos e prostrou-se em adoração. Depois disse: «Se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, digne-Se o Senhor caminhar no meio de nós. É certo que se trata de um povo de dura cerviz, mas Vós perdoareis os nossos pecados e iniquidades e fareis de nós a vossa herança». (Êxodo)

            Sede alegres, trabalhai pela vossa perfeição, animai-vos uns aos outros, tende os mesmos sentimentos, vivei em paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros com o ósculo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco. (2ª Coríntios)

            Disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita n’Ele já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus». (João)

 

            O texto do Evangelho é tirado de João, e faz parte de uma longa conversa noturna de Jesus com Nicodemos, sendo que Nicodemos representa os chefes judaicos e o povo da Antiga Aliança na sua generalidade. Evidentemente – temos sempre que o recordar – o evangelho de João reflete a fase final da reflexão bíblica sobre Jesus de Nazaré e sobre a própria história da salvação. Ou seja, se considerarmos que toda a Bíblia é inspirada por Deus e revela Deus, teremos no evangelho de João como que o último parágrafo da revelação de Deus aos homens.

            A Palavra de Deus aos homens – em sentido absoluto – é o próprio Jesus de Nazaré. Mas Jesus é uma Palavra de Deus, uma revelação de Deus, de tal modo carregada de frescura, de novidade, de jovialidade, de vida, enfim, de amor, que a reflexão sobre esta Palavra Jesus demorou bastante tempo até traduzir em palavras humanas e em conceitos comuns essa novidade de Deus chamada Jesus de Nazaré. Desde os momentos iniciais do espanto face às notícias prodigiosas de que o túmulo do nazareno crucificado se encontrava vazio e de que o mesmo crucificado aparecera a alguns antigos seguidores numa nova dimensão de vida…, até à afirmação escancarada de que esse mesmo nazareno é o “Filho Unigénito de Deus”…. – vai um salto de muita reflexão humana e muita inspiração divina!

            Essa evolução na compreensão do mistério de Deus não se fez no vazio, nem foi pura especulação filosófico-teológica sobre Deus; fez-se sobretudo pelos desafios imediatos, nomeadamente pela necessidade de dar razões da fé na ressurreição diante dos crentes judeus. E a conversa de Jesus com Nicodemos representa, da parte dos cristãos, o ponto final das polémicas teológicas com os judeus: uma afirmação clara, explícita e inequívoca de que Jesus de Nazaré é Deus, e de que a salvação não está mais dependente da Lei de Moisés, mas da aceitação ou recusa de Jesus como o único senhor das nossas vidas.

            Na segunda Leitura, Paulo, despedindo-se dos cristãos de Corinto no final de uma das Cartas que lhes escreveu, encerra a missiva com um conjunto de recomendações finais e com uma fórmula, que aliás ainda hoje mantemos: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”. Esta fórmula (que se repete em outros passos) era litúrgica e não pretendia certamente afirmar já, do ponto de vista dogmático, pouco depois do ano 50, uma afirmação explícita em Deus como três Pessoas distintas. Mas a liturgia foi também um caminho privilegiado da reflexão dos primeiros cristãos sobre o lugar de Jesus no Mistério de Deus; e depois, do lugar do Espírito Santo nesse mesmo Mistério divino.

            Da primeira Leitura devemos ressaltar a abertura de Deus para a humanidade, em compaixão e misericórdia. O Deus Trinitário, que é em Si mesmo a plenitude de Amor, abre-se para fora de Si, e “digna-se caminhar no meio de nós!”

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