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20 de março – 2º domingo da quaresma

A mão de Deus na “firme resolução” do Nazareno

        Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos». (Mateus)

 

         O relato da transfiguração é uma teofania. Literalmente quer dizer “manifestação de Deus”. Mas para lermos as coisas bem desde o início, devemos primeiro perceber que a teofania é, antes de mais, um género literário, como a poesia, o romance ou o conto. Quando lemos no soneto da Florbela Espanca que “o amor é fogo que arde sem se ver”, não estamos a pensar que o amor seja um fenómeno químico de combustão com a particularidade de ser invisível aos olhos! Sabemos que é poesia.

         Para lermos correctamente um texto é importante, pois, perceber o estilo literário em que está escrito. E as teofanias são um estilo literário, uma construção com um conjunto de elementos (normalmente montes, nuvens, vozes, luzes…) para dizer que Deus está presente num acontecimento, ou talvez melhor, que um certo acontecimento que parece simplesmente natural ou humano tem em si, escondida mas muito activa, a mão de Deus, uma intenção de Deus.

         Há duas teofanias relevantes nos evangelhos sinópticos: uma depois do baptismo de Jesus, e a da transfiguração, que lemos hoje. Na primeira, percebemos facilmente que os evangelistas querem dizer que Deus estava presente no baptismo de Jesus, dando-Lhe uma missão. Mas nesta, da transfiguração, que acontecimento reclama essa mão inequívoca de Deus? Embora não seja doutrina, devemos pensar, falando em termos actuais, numa reunião “decisiva” que Jesus fez com os seus discípulos em Cesareia de Filipe, aquela em que Pedro disse a Jesus que ele era o Cristo, o Filho de Deus. Normalmente nós damos muita ênfase à confissão de Pedro, mas o verdadeiro centro dessa reunião não é a profissão de fé de Pedro, mas a decisão – a “firme resolução” – que Jesus toma em relação ao seu futuro, de fidelidade pessoal à mensagem de que Ele próprio é portador, na convicção de que essa fidelidade lhe reserva uma morte violenta. Essa reunião/decisão em Cesareia de Filipe é de tal modo importante que Marcos constrói todo o seu evangelho centrado nela; mas também Mateus e Lucas lhe dão muito relevo. É nessa reunião que Jesus não só vence definitivamente as tentações que vimos no domingo passado de ser Deus (isto é, de impor à força o Reino que anuncia), de instrumentalizar Deus (isto é, de obrigar o Pai a intervir em seu favor) e de trocar de Deus (isto é, de fazer alianças e cedências com/às forças políticas ou aos poderes sagrados, que deturpariam a sua missão ao serviço da verdade), como também intui claramente que o preço desta decisão será uma morte violenta. Percebe e aceita firmemente que o seu Reino passa pela sua morte violenta!

         Aliás, Mateus e Marcos começam esta teofania da transfiguração por dizer “seis dias depois”. Os comentadores bíblicos não dão grande importância a esta “cronologia”, que parece anacrónica. Mas se nós procurarmos qual possa ser o acontecimento objectivo no texto evangélico anterior à Transfiguração, encontramos exactamente essa reunião em Cesareia de Filipe…

         Em Mateus, a teofania da transfiguração reafirma sobretudo que nessa decisão de Jesus (repetimos: de fidelidade à sua missão, apesar da convicção da morte violenta por causa dessa fidelidade) Deus manifesta que Ele é de facto o Novo Moisés e que toda a lei (Moisés) e toda a profecia (Elias) se encaminharam para Ele. Mateus nunca perde uma oportunidade de nos dizer que em Jesus se cumprem todas as Escrituras.

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