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22 de maio – 5º domingo da páscoa

Vós conheceis o caminho!

            «Não se perturbe o vosso coração. Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim. Em casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse, Eu vos teria dito que vou preparar-vos um lugar? Quando eu for preparar-vos um lugar, virei novamente para vos levar comigo, para que, onde Eu estou, estejais vós também. Para onde Eu vou, conheceis o caminho». Disse-Lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais: como podemos conhecer o caminho?». Respondeu-lhe Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim. Se Me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. Mas desde agora já O conheceis e já O vistes». Disse-Lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta». Respondeu-lhe Jesus: «Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheces, Filipe? Quem Me vê, vê o Pai. Como podes tu dizer: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim próprio; mas é o Pai, permanecendo em Mim, que faz as obras. Acreditai-Me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim; acreditai ao menos pelas minhas obras. Em verdade, em verdade vos digo: quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço e fará obras ainda maiores, porque Eu vou para o Pai». (João)

 

            O texto do Evangelho é tirado da narrativa da Última Ceia, segundo João. Este evangelista – que não refere a bênção sobre o pão e o vinho – dá todavia um enorme relevo a esta Ceia, que marca com alguns gestos proféticos, como a lavagem dos pés aos discípulos, com algumas exortações de Jesus, sobretudo à vida em comunhão dos discípulos uns com os outros, e com repetidas “promessas” do Espírito Santo. Convém recordar que o Evangelho de João é um dos últimos escritos da Bíblia, já perto do ano 100, numa altura em que a Igreja tinha dois grandes inimigos: externamente, os poderes do império romano (a “besta”) que já iniciara as suas perseguições aos cristãos; mas, internamente, a Igreja guerreava-se a si mesma, no meio de divisões muito profundas, sobretudo por questões doutrinárias, com várias heresias a surgir, algumas com grande vitalidade. A Igreja para a qual João escreve é, pois, uma Igreja, ameaçada do exterior, mas também ameaçada por dentro, dividida por graves conflitos doutrinários, uma Igreja não-comunhão. É certamente uma Igreja que continua a celebrar a “Fração do Pão”, a Eucaristia, na procura da intimidade com Jesus, mas que não consegue mais viver a intimidade entre os irmãos.

            Ora João como que concentra na Última Ceia a resposta de Jesus a estes medos e, em rigor, a estas ameaças reais. Diante das perseguições externas, pede aos discípulos serenidade, confiados na Promessa do Espírito Santo e de um “lugar” na glória celeste, junto do Pai; diante das divisões internas, apela repetidamente à comunhão fraterna, ao mandamento do Amor, e ao serviço mútuo, não na arrogância própria de quem julga ser dono da verdade, mas na humildade de quem se dispõe a lavar os pés, mesmo sendo Mestre e Senhor…

            João cria para a Ceia um ambiente muito denso, por um lado muito intimista, por outro lado muito perturbado. Jesus lavara os pés aos discípulos; mas Judas, logo depois, sai para executar o seu plano de traição. Celebram a Páscoa, a Passagem libertadora de Deus, mas há no ar um cheiro a morte, ou, na linguagem de João, “fazia-se noite”! Jesus antecipa-se a quebrar esse “negrume”: “Não se perturbe o vosso coração. Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim…”. Mas eles estão perdidos…; se ao menos soubessem para onde Ele ia, se soubessem o caminho certo…; mas mesmo que não o soubessem, Jesus que lhes mostrasse o Pai e isso lhes bastava!  

            Mas o Pai não Se revela desse modo espetacular. Revela-se em Jesus, que dá a vida pelos seus amigos, que dá a vida na cruz, certamente, mas também a vida de todos os dias da sua existência terrena, como Mestre e Senhor que serve: “Acreditai-me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim”. Usando das categorias da filosofia grega de caminho, verdade e vida, João lembra aos seus irmãos cristãos que o Pai se descobre quando cada um, e a comunidade dos discípulos no seu todo, se decide a conformar-se e identificar-se [tomar a forma e o conteúdo] com Jesus: se decide a trilhar a História ao jeito de passos-com-passos de Jesus de Nazaré; a ler Deus, o mundo e a vida, ao jeito de mente-na-mente de Jesus de Nazaré; se decide, finalmente, sonhar o Reino dos Céus, ao jeito de coração-com-coração de Jesus de Nazaré. É esse o caminho.

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