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23 Janeiro 2011 – III Domingo Comum

“Dicas” de Mateus para lermos… Mateus

Quando Jesus ouviu dizer que João Baptista fora preso, retirou-Se para a Galileia. Deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali. Assim se cumpria o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer: «Terra de Zabulão e terra de Neftali, estrada do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios: o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou». Desde então, Jesus começou a pregar: «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus». Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-Me e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu, a consertar as redes. Jesus chamou-os e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O. Depois começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo. (Mateus)

 

O Evangelho apresenta-nos o início da vida “pública” de Jesus. Ficaram para trás, no plano de Mateus, os Evangelhos da Infância, o Baptismo e as Tentações, aquele tempo “privado” de Jesus, desde o seu nascimento até àquela maturidade humana e espiritual que o leva a tornar-se o “pregador” de uma realidade humana e social totalmente habitada por Deus: o Reino.

Mas para Mateus não há nenhuma ruptura entre o Jesus “privado” de Nazaré e o Jesus “público” que percorre toda a Galileia, proclamando o Evangelho e curando todas as doenças. Pelo contrário, Mateus “cola” estes dois tempos, cria uma unidade e continuidade entre eles, através do mesmo recurso teológico: o cumprimento das profecias. Tal como nos evangelhos da infância Mateus nos repete insistentemente que isto ou aquilo aconteceu porque naquele Menino se cumpriam as profecias, também agora, na acção concreta de Jesus adulto, se cumprem as Escrituras. Mas Mateus acrescenta um dado importante: agora quem conduz ao cumprimento das promessas já não é um anjo através de um sonho, mas são as decisões conscientes e amadurecidas de Jesus de Nazaré. É Ele o único e verdadeiro autor e actor do cumprimento de todas as profecias sobre o Messias.

Esta autoridade divina com que Mateus reveste Jesus de Nazaré desde o início da sua vida pública revela-se ainda no chamamento dos primeiros discípulos: o convite soa a “ordem” (“Vinde e segui-Me”) e a aceitação a obediência ontológica (deixaram [coisas, actividades e relações]… e seguiram-n’O). A única coisa que se intercala entre a autoridade do chamamento e a radicalidade da resposta imediata e obediente é a missão para que os discípulos são chamados: serem “pescadores de homens”. Mas também aqui é Jesus quem define a missão e quem os capacita para a mesma. Ele, e só Ele, é o Senhor do Reino que anuncia; Ele, e só Ele, fala e age com a autoridade do próprio Deus. Em S. Mateus, Jesus é sempre Deus!

Por outro lado, apesar de ser Deus, as decisões que toma não são desencarnadas da História mas respondem à leitura que Ele faz da História: é um acontecimento histórico concreto (a prisão de João Baptista) que leva Jesus a ir residir para Cafarnaum. Nesta decisão há certamente causas imediatas (de segurança física pessoal, de mudança de estratégia…), mas que Mateus mais uma vez “diviniza”, introduzindo a primeiríssima decisão da vida pública de Jesus já no contexto “da perseguição” e da morte.

Inversamente, os discípulos são sempre a Igreja, a comunidade testemunha da divindade de Jesus: uma comunidade que deve ser pronta na resposta, obediente, confiante, desprendida e com uma missão muito clara: “ser pescadora de homens”. Os discípulos são sempre a Igreja, a comunidade de irmãos: nenhum destes chamamentos é individual e em ambos os casos os discípulos são chamados já “como irmãos”!

Digamos que Mateus até agora nos deu quatro “dicas” para interpretarmos o seu evangelho: tudo o que Jesus faz é cumprimento das Escrituras; a oposição a Jesus está sempre presente; o “seu” Jesus de Nazaré é sempre Deus; os discípulos são sempre a Igreja. A estas quatro “dicas”, soma uma quinta, mais estrutural: Jesus “proclama” e “cura”, como duas faces de uma mesma moeda. É baseado nesta dupla face (pregação/cura) que Mateus vai estruturar o seu evangelho em cinco grandes secções, havendo em cada uma delas uma primeira parte com um grande sermão e uma segunda parte com milagres correspondentes ao sermão acabado de proferir. Em Mateus, Jesus sempre “diz” e “faz o que diz”.

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