24 de Abril – domingo de Páscoa
Nem chocolates, nem amêndoas, mas… sapos
Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: «quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados».
Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. (Colossenses)
Depois do sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram visitar o sepulcro. De repente, houve um grande terramoto: o Anjo do Senhor desceu do Céu e, aproximando-se, removeu a pedra do sepulcro e sentou-se sobre ela. O seu aspecto era como um relâmpago e a sua túnica branca como a neve. Os guardas começaram a tremer de medo e ficaram como mortos. O Anjo tomou a palavra e disse às mulheres: «Não tenhais medo; sei que procurais Jesus, o Crucificado. Não está aqui: ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver o lugar onde jazia. E ide depressa dizer aos discípulos: ‘Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis’. Era o que tinha para vos dizer». As mulheres afastaram-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e grande alegria, e correram a levar a notícia aos discípulos. Jesus saiu ao seu encontro e saudou-as. Elas aproximaram-se, abraçaram-Lhe os pés e prostraram-se diante d’Ele. Disse-lhes então Jesus: «Não temais. Ide avisar os meus irmãos que partam para a Galileia. Lá Me verão». (Mateus)
A leitura dos Actos dos Apóstolos fala-nos de um discurso de Pedro a uma família pagã, da casa de Cornélio. Dá-nos o esquema típico da pregação dos primeiros cristãos aos pagãos, àqueles que tinham outras religiões. Esta pregação ignora conscientemente o Antigo Testamento e centra-se só em Jesus e nos apóstolos (Igreja). O esquema é: “Depois de uma afirmação sobre o sentido da vinda de Jesus, o discurso evoca as etapas do seu ministério segundo o plano dos Sinópticos, com referência à morte, à ressurreição, às aparições e à missão confiada aos Apóstolos, terminando com um apelo à fé confirmada pelo testemunho dos profetas” (nota de rodapé da edição bíblica dos capuchinhos).
A liturgia prevê a possibilidade de ler nas missas do dia o Evangelho da Vigília, e é esse esquema que aqui seguimos. O relato da ressurreição em Mateus é sob a forma literária apocalíptica, na continuação do estilo dos capítulos antecedentes à Ceia. O fim dos tempos anunciado nesses capítulos cumpre-se já na morte e ressurreição de Jesus: os terramotos, o anjo, os relâmpagos, a brancura das vestes, tudo isso é testemunho de que o tempo acabou, e Deus triunfou definitivamente sobre todo o mal.
Mateus insiste duas vezes na ideia das aparições do Ressuscitado aos discípulos se terem dado na Galileia, enquanto as aparições às mulheres se deram em Jerusalém. Alguns exegetas vêem aqui um duplo foco de testemunhos sobre a ressurreição de Jesus, um em Jerusalém, centrado no túmulo vazio e no testemunho de algumas mulheres; outro na Galileia, centrado em aparições do Senhor e no testemunho dos apóstolos. Os evangelistas tentam reter estas duas tradições, justapondo-as conforme o seu plano catequético. O facto é que ambas são muito fortes, e nem Mateus, que é judeu e escreve para judeus, para quem o testemunho das mulheres não conta, deixa de dar um grande espaço a esta tradição de Jerusalém centrada nas mulheres (integrando até uma aparição do Senhor às mesmas!).
Sociologicamente falando, o primeiro fruto da ressurreição de Jesus foi a dignificação das mulheres. Os apóstolos, todos judeus, tiveram que “engolir este sapo” cultural! Logo a seguir, a dignificação de todas as culturas, nações e raças… Também o judeu Pedro teve que engolir – quase literalmente (Act 10, 13) – o mesmo sapo na pregação a Cornélio! A ressurreição de Jesus mexeu com toda a História desde o primeiro dia.
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