Notícias

27 de fevereiro – VIII domingo do tempo comum

A Lei e os bens materiais

«Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: «Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem, quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à sua estatura? E porque vos inquietais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos inquieteis, dizendo: ‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’ Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã tratará das suas inquietações. A cada dia basta o seu cuidado». (Mateus)

            No espírito do Sermão da Montanha, que temos vindo a ler nos últimos Domingos, Jesus desafia os seus discípulos (como elemento constitutivo da Nova Lei) à radicalidade da perfeição… também em relação ao uso dos bens materiais.

            Aqui não aparece a expressão “foi-vos dito […] eu, porém digo-vos”, mas o espírito que preside a este texto é o mesmo, como quem diz: “foi-vos dito que deveis praticar a justiça, que não deveis reter o salário do trabalhador até ao dia seguinte…, etc; eu, porém, digo-vos: centrai todas as vossas preocupações em edificar já neste mundo o Reino (ou o Reinado) de Deus. Atingi essa perfeição, e aquilo que é necessário à vossa digna subsistência vos será dado [até pela razão simples de que uma distribuição dos bens da terra segundo os valores do Reino implica a sua distribuição por todos!].

            “Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça”, diz Jesus. Ora a justiça do Reino, em termos bíblicos, é “fazer a vontade de Deus” ou, noutras palavras, é ser santo. Continuamos, pois, a desembrulhar sucessivas camadas da mesma ideia central da nova Lei: a santidade de vida. A camada que a liturgia de hoje nos apresenta é a da relação perfeita com os bens materiais.

            Uma camada que não é, a título nenhum, mais fácil de viver na perfeição do que aquela de dar a outra face a quem nos tiver batido antes numa delas! A relação com os bens materiais é central às preocupações humanas, pela simples razão de que nós somos matéria e precisamos de subsistir meterialmente! Jesus não nega essa necessidade; pelo contrário, ilustra-a poeticamente falando das aves do céu e dos lírios do campo, e insere-a inclusive nas preocupações paternais de Deus em relação a nós: “bem sabe vosso Pai celeste que precisais de tudo isso”! Apenas, com um senão: para os discípulos de Jesus, o centro das preocupações, das inquietações, da sua procura de sentido para a vida, não podem ser os bens materiais, porque estes são um meio e não um fim: a pessoa é maisd o que o seu corpo!

            Talvez seja mais fácil compreender isto, colocando as questões ao contrário: os discípulos de Jesus pagam honestamente todos os impostos, a começar pelo IVA dos pequenos arranjos no automóvel ou na canalização da cozinha? Os discípulos de Jesus são imunes às tentativas de corrupção? Os discípulos de Jesus recusam-se a meter cunhas que alterem a verdade dos concursos?

            O que o Evangelho de hoje diz é que para os discípulos de Jesus (Jesus fala para os seus discípulos, não para os outros!), estes comportamentos de honestidade na relação com as coisas materiais fazem parte integrante da Lei de Deus, tal como Ele, Jesus, a compreende.

            Depois fica sempre a possibilidade de aumentar o leque das perguntas e a margem de aperfeiçoamento nos comportamentos. Por exemplo, a pobreza no Haiti tem alguma coisa a ver com a perfeição dos discípulos de Jesus? Os negócios com países que não respeitam os direitos humanos tem alguma coisa a ver com os discípulos de Jesus? As falcatruas na gestão das empresas ou dos empreendimentos tem alguma coisa a ver com os discípulos de Jesus?

Partilhar:

Deixe uma resposta

Cáritas

A Cáritas Portuguesa é um serviço da Conferência Episcopal Portuguesa. É membro da Cáritas Internationalis, da Cáritas Europa, da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, da Confederação Portuguesa do Voluntariado, da Plataforma Portuguesa das ONGD e do Fórum Não Governamental para a Inclusão Social.

Cáritas em Portugal

Contactos

Rua D. Francisco de Almeida, n 14
3030-382 Coimbra, Portugal

239 792 430 (Sede) – Chamada para rede fixa nacional

966 825 595 (Sede) – Chamada para rede móvel nacional

239 792 440 (Clínica) – Chamada para rede fixa nacional

 caritas@caritascoimbra.pt

NIF: 501 082 174

Feed

 

Comunicação Institucional