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6 de fevereiro 2011 – V domingo tempo comum

É ainda das Bem-aventuranças que Jesus fala

Eis o que diz o Senhor: «Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante. Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá, se O invocares, dir-te-á: ‘Aqui estou’. Se tirares do meio de ti a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas, se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente, a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia». (Isaías)

 «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus». (Mateus)

            Vimos no Domingo passado que Mateus fez uma diferenciação entre “a multidão” e os “discípulos”. Jesus vê as multidões, mas o seu discurso da Lei é dirigido aos discípulos, à Igreja, a nós.

            Na verdade, o Evangelho da Missa de hoje faz parte do mesmo discurso (Sermão da Montanha) do Domingo passado e é o texto que se segue imediatamente às bem-aventuranças, assim como que uma espécie de conclusão lógica das próprias bem-aventuranças; se o mundo está insosso e/ou às escuras, de quem será a culpa afinal? Diz Mateus: de nós, que não vivemos radicalmente as bem-aventuranças. Somos sal que não dá sabor, fermento (noutra parábola) que não leveda, luz que não ilumina. Ser sal, é viver as bem-aventuranças! Ser luz, é viver as bem-aventuranças!

            Digamos a mesma coisa de outro modo: até agora, em lado nenhum deste sermão Mateus condena a multidão, o mundo… Anuncia um conjunto de caminhos de felicidade (as bem-aventuranças) sem condenar nenhum outro! O sermão da Nova Lei não é para condenar o mundo, mas para salvar o mundo: “para que os homens glorifiquem vosso Pai que está nos céus”, como termina o evangelho deste Domingo. É para esta finalidade – levar o mundo para Deus e não para condenar o mundo em nome de Deus – que Mateus compila aqui o conjunto de ensinamentos de Jesus sobre a Lei.

            A Lei de Cristo é para os discípulos; não para os outros! Mas os seus efeitos reflectem-se tanto sobre os cristãos (discípulos), como sobre os outros: os cristãos, sendo felizes, sendo bem-aventurados; os outros, glorificando a Deus, espantados com o testemunho dos cristãos, com a luz que os cristãos irradiam, com a qualidade que os cristãos dão às coisas da vida. Uma coisa, então, parece clara: a primeira e mais radical forma de evangelização, de levar os homens a glorificarem Deus, é a vivência que cada um de nós (e todos, como Igreja) faz das bem-aventuranças.

            Assim sendo, as boas obras a que se refere Jesus não são palavras, nem coisas; são atitudes e comportamentos. São uma predisposição de estar diante de Deus como filhos e diante dos homens como irmãos. E de agir filial e fraternalmente.

            Porque neste Sermão da Montanha há, de facto, um confronto de critérios. Só que esse confronto de critérios não é entre os bem-aventurados e o mundo, mas entre o sal que perdeu a força e o sal cheio de força, entre a luz que não brilha e a luz que dá claridade a todos. É o modo de viver a fé em Deus, o modo de ser religioso, o modo de seguir a Lei de Deus que está em causa; é a esse nível que há um modo velho (que persegue e mata os profetas) e um modo novo, profético (feito de espírito de pobreza, humildade, fome e sede de justiça…) de viver a Lei de Deus.

            Como mostra a Primeira Leitura, esse modo de ser sal e luz já fora anunciado pelos profetas antes de Jesus. Mas Jesus, olhando as multidões que o rodeiam, sente que esse sal lançado pelos profetas não está a dar sabor ao seu mundo, que essa luz se escondeu atrás de algum alqueire (armário) velho! E pede-nos que não deixemos que tal aconteça também connosco. De resto, devemos ligar ao sal também a ideia de conservar a qualidade dos alimentos; de não deixar os alimentos estragarem-se. Ser sal é não só dar bom sabor ao mundo, mas também preservar com toda a qualidade aquilo que nos foi transmitido de ensinamento e vida no passado pelos Profetas de todos os tempos.

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