13 de fevereiro – VI domingo tempo comum
Da letra e do espírito da Lei
«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo. Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher com maus desejos já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é melhor perder-se um só dos teus olhos do que todo o corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor que se perca um só dos teus membros, do que todo o corpo ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher dê-lhe certidão de repúdio’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que repudiar sua mulher, salvo em caso de união ilegítima, fá-la cometer adultério. E quem se casar com uma repudiada comete adultério. Ouvistes ainda que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’. Eu, porém, digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno».
Vale a pena insistir na afirmação de que estamos ainda a ler o primeiro sermão de Jesus, aquele que começa com as Bem-aventuranças, colocado na manhã de um certo dia, no alto duma Montanha, dirigido à Igreja, e que, em rigor, é um texto único onde Mateus compila muitos ensinamentos de Jesus (e provavelmente alguns já da própria Igreja) sobre a Nova Lei do Reino dos céus.
Até agora, Mateus tinha enunciado os grandes critérios (bem-aventuranças) dos que querem ser felizes no Reino dos Céus e colocado a vivência desses critérios como exigência da missão evangelizadora do mundo (ser sal e luz). Agora o evangelista dá mais dois passos: 1. situa qual é a novidade desta Nova Lei em relação à Antiga; 2. desce a exemplificações, com considerações e aplicações práticas da Nova Lei.
Para os hebreus (que são os cristãos para quem Mateus escreve), a coisa principal da religião era cumprir a Lei de Deus. Mas se os cristãos agora, por exemplo, já não circuncidam os filhos, não estarão eles a revogar a (Antiga) Lei de Deus?! A resposta do evangelista, captando o espírito do ensinamento de Jesus, é: não, não estão a revogá-la, mas a completá-la, porquanto a Antiga Lei se centrava muito (ou mesmo exclusivamente) sobre os comportamentos, e a Nova Lei se centra sobre o espírito que deve presidir a todos os comportamentos. Se cada comportamento obedecer ao espírito que lhe preside, pode até ser diferente da letra da Lei, que a continua a cumprir totalmente até ao mais pequeno jota ou ápice. De facto, também os doutores da Lei e os fariseus viviam preocupados em cumprir toda a Lei até esses pequenos jotas e ápices…; mas, diz Mateus aos cristãos para quem escreve, “se a vossa justiça [=santidade] não superar a dos doutores da lei e dos fariseus, não entrareis no reino do Céu”! “Superar” quer dizer: cumprir isso tudo, e mais; quer dizer, a perfeição!
Os exemplos dados (ódio e reconciliação, adultério e escândalo, divórcio, linguagem e juramentos…), todos enquadrados pela expressão: “ouvistes o que foi dito(…); eu, porém, digo-vos(…)”, referem-se a situações práticas na vida dos cristãos em que lhes é pedido que vivam as exigências das bem-aventuranças, essa radicalidade pela qual serão reconhecidos como sal e luz, e que supera a letra da Antiga Lei, pelo espírito da Nova Lei.
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