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11 de novembro – 32º domingo comum

Vil: a exploração dos pobres em nome de Deus

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores. (Sl 145)


Jesus ensinava a multidão, dizendo: «Acautelai-vos dos escribas, que gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas com pretexto de fazerem longas rezas. Estes receberão uma sentença mais severa». Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa. Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante. Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver». (Marcos)

 

Na sociedade judaica do tempo de Jesus há dois grupos que dominam o mundo político-religioso: os sacerdotes e os escribas (também chamados doutores da lei e letrados). Outros grupos de que ouvimos falar, como os fariseus ou os saduceus, são mais uma espécie de “movimentos” religiosos (como hoje há movimentos religiosos), que têm uma fé comum, mas se diferenciam pelo acento em aspetos concretos da mesma. Como toda a sociedade é fortemente religiosa, estes “movimentos” também têm muita incidência social e política, mas não pertencem de facto à estrutura do poder: esta é dos sacerdotes e dos escribas. Os sacerdotes têm mais peso político (o “Sumo sacerdote” é o verdadeiro “primeiro-ministro” da Judeia, ainda que sob a administração romana); mas são os escribas que detêm o verdadeiro poder cultural: são eles que interpretam a Lei, que a ensinam ao povo no templo e nas sinagogas e que prescrevem ao povo todos os inúmeros ritualismos com que é marcada a vida diária. Por isso, os escribas são… em qualquer lado… os primeiros em tudo: no vestuário, na adulação pública, nos lugares de culto, nos banquetes para que são convidados!

Embora estejamos habituados, sobretudo por influência de Mateus, a que os grandes conflitos religiosos de Jesus teriam sido com os fariseus, provavelmente terão sido sobretudo com os escribas (muitos dos quais, aliás, pertencentes ao tal “movimento” dos fariseus). E a acusação que Jesus lhes faz, segundo Marcos, é extremamente severa: “devoram a casa das viúvas com pretexto de fazerem longas rezas”. Tanto mais severa quanto as viúvas pertencem àquela margem de população extremamente pobre da sociedade judaica (porque os bens eram propriedade masculina!).  Será que tais “longas rezas” incluiriam o salmo da missa de hoje?!

Por isso Marcos, com subtileza, cola aqui o episódio da viúva que deita na caixa do templo tudo quanto tinha, duas pequenas moedas. O contraste verdadeiro não é assim tanto entre a oferta “pequenina-total” da viúva e as ofertas “grandes-parciais” dos ricos, mas entre a oferta que a viúva pobre faz de si totalmente a Deus e a exploração que os escribas fazem dos pobres em nome de Deus.

Começa a dar para perceber porque é que Jesus vai acabar por ser condenado à morte!

Vale a pena acrescentar uma observação: “Jesus sentou-se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa”. Jesus assume uma postura de puro sociólogo religioso 19 séculos antes de Durkheim ou Max Weber! E tira consequências e ensinos religiosos da sua observação sociológica! Que homem extraordinário Jesus de Nazaré, e que extraordinário evangelista este Marcos que no-lo assim apresenta!

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