17 de junho – 11º domingo comum
As Parábolas do Reino de Deus
Jesus disse à multidão: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita». Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar? É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra». Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de entender. E não lhes falava senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos. (Marcos)
A liturgia de hoje apresenta-nos o primeiro discurso de Jesus à multidão, no evangelho de Marcos. É uma coletânea de parábolas sobre o Reino de Deus. “Reino de Deus”, ou talvez mais rigorosamente, como diz Mateus, “Reino dos Céus”, ou ainda “Reinado de Deus” (“Reinado dos Céus”), é uma expressão usada por Jesus para definir o centro da sua mensagem. Se é possível reduzir em duas palavra somente, aquilo que ele quis, aquilo por que lutou, aquilo por que morreu, tal expressão é “Reino de Deus”.
Mas, apesar de o “Reino de Deus” ser o centro da sua vida e da sua mensagem, Jesus nunca o definiu. Falou dele sempre em parábolas, com comparações que nos obrigam a fazer um esforço de inteligência, de discernimento, para tentar compreender como é que Jesus concebia tal Reino.
Apesar de serem um desafio à inteligência, a linguagem das parábolas, curiosamente, em si mesma, é simplicíssima, podendo ser traduzida na expressão: “tal como…, assim também…”. Por exemplo, no evangelho de hoje, para a primeira parábola temos: tal como a semente cresce no seu ritmo natural, independentemente do maior ou menor esforço do semeador, assim também o reino de Deus tem o seu ritmo de crescimento próprio, independentemente do maior ou menor esforço das pessoas. Na segunda parábola temos: tal como uma semente pequenina se transforma numa planta grande, assim também o Reino de Deus, de pequenino, se vai transformar em grande.
Claro, salta logo uma pergunta: mas então se o Reino de Deus segue o seu ritmo, independentemente do esforço das pessoas, de que vale a gente lutar por ele? A resposta a esta pergunta tem duas vertentes:
a) as parábolas, sobretudo as parábolas do Reino, devem ser lidas no seu todo, onde cada uma põe de relevo uma caraterística, sem anular as outras. Assim, antes desta parábola, Jesus já contara a parábola da semente que cai no terreno com espinhos, ou na terra dura, ou à beira do caminho, ou em terra fértil… Aí, é manifesto que nós temos que lutar, sim, pelo Reino, a partir da nossa própria conversão;
b) as parábolas não são histórias desencarnadas, mas respondem a expetativas, crenças, comportamentos daqueles homens e mulheres que ouviam Jesus. São provocação não só à sua inteligência, mas também à sua vida. Neste sentido, o que a parábola da semente que cresce ao seu ritmo natural nos diz não é que não vale a pena nós nos esforçarmos, mas sim que Deus não é manipulável. (É uma parábola que provoca as expetativas, crenças e comportamentos dos fariseus, dos zelotas, dos saduceus, dos essénios, todos eles grupos que tentavam “obrigar” Deus a mandar-lhes o Messias, através do cumprimento de determinadas práticas). Do mesmo modo, a parábola da semente da mostarda também não nega o nosso esforço, mas coloca cada um (nós e Deus) no seu lugar: é Deus mesmo quem vivifica a partir de dentro o seu Reinado e o faz crescer.
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