19 de fevereiro – 7º domingo comum
Porque o pecado nos paralisa
Quando Jesus entrou de novo em Cafarnaum e se soube que Ele estava em casa, juntaram-se tantas pessoas que já não cabiam sequer em frente da porta; e Jesus começou a pregar-lhes a palavra. Trouxeram-Lhe um paralítico, transportado por quatro homens; e, como não podiam levá-lo até junto d’Ele, devido à multidão, descobriram o teto por cima do lugar onde Ele Se encontrava e, feita assim uma abertura, desceram a enxerga em que jazia o paralítico. Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados». Estavam ali sentados alguns escribas, que assim discorriam em seus corações: «Porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar. Não é só Deus que pode perdoar os pecados?» Jesus, percebendo o que eles estavam a pensar, perguntou-lhes: «Porque pensais assim nos vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao paralítico ‘Os teus pecados estão perdoados’ ou dizer ‘Levanta-te, toma a tua enxerga e anda’? Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, ‘Eu to ordeno – disse Ele ao paralítico – levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa’». O homem levantou-se, tomou a enxerga e saiu diante de toda a gente, de modo que todos ficaram maravilhados e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim». (Marcos)
Depois daquele périplo pelas povoações da Galileia, no decorrer do qual curou o leproso, Jesus volta a Cafarnaum, que era, digamos, a terra onde tinha a sua casa. Mas o cenário, tal como Marcos no-lo apresenta, continua muito igual: as pessoas procuram Jesus e Jesus “prega-lhes a palavra”. No meio desta pregação, agora na sua própria casa, Marcos vai colocar um quarto milagre: o do paralítico descido pelo telhado.
Quem leu os nossos comentários nas últimas semanas facilmente vê que já temos então, até agora, quatro milagres: o do homem possuído por um espírito impuro na sinagoga de Cafarnaum; a sogra de Pedro, o leproso e, hoje, este paralítico. Cada um destes milagres manifesta um poder de “cura” especial de Jesus: Ele cura as doenças do espírito, cura as doenças do corpo, cura as doenças sociais (exclusão e marginalização social) e cura… o próprio pecado!
Agora, tal como na cura do leproso o mais importante não foi a cura em si, mas a sua inclusão social, também no milagre do paralítico o mais importante não é a sua cura física, mas o perdão dos pecados. Vamos assentar já nesta ideia: aquele homem não era paralítico por ter pecado. Simplesmente era pecador como todos nós! A paralisia, aqui, não é causa ou consequência dos seus pecados, mas apenas símbolo, imagem, dos seus pecados e dos nossos.
De facto, paralítico é aquele que não pode andar por sua iniciativa, por sua capacidade autónoma, por mais vontade que tenha. Ora é isso que acontece com o pecado. O pecado deixa-nos, irremediavelmente, nas mãos dos outros e de Deus, porque o pecado é a perda da nossa dignidade pessoal exatamente diante de Deus e dos irmãos; e quem perde a dignidade, não pode por si mesmo voltar a readquiri-la; poderá readquiri-la sim, se Deus e os irmãos lha restituírem. O pecador é a pessoa espiritualmente paralisada, totalmente dependente da vontade e do perdão de outrem.
Com a cura (perdão) dos pecados atingimos o maior de todos os milagres de Jesus: não só porque, como bem observaram os escribas, esse é um poder exclusivo de Deus, mas também porque dessa cura todos, absolutamente todos, estamos necessitados. Aliás, Marcos põe isso de relevo, reduzindo o paralítico a uma figura que pode ser cada um de nós: não tem nome, nada diz, nem se sabe da fé dele (apenas se sabe da fé daqueles que o levaram!), nem sequer vai até Jesus pelo seu pé…; e quando vai embora, curado, continuamos sem saber da sua reação! Sabemos sim da reação daqueles que viram o milagre: glorificavam a Deus. Portanto, trata-se de uma pessoa que Marcos mantém num anonimato absoluto, e onde cada um de nós cabe.
Noutra perspetiva, o dramático disto é que enquanto Jesus se limita a curar os males do corpo, todos o aplaudem e lhe invadem a casa; mas quando cura a alma, já começam a murmurar… Afinal, nem tudo continua igual: a debandada vai começar!
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