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4 de novembro – 31º domingo comum

Implicações de um credo histórico

Aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» Jesus respondeu: «O primeiro é este: ‘Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças’. O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele. Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a interrogá-l’O. (Marcos)

 

Na semana passada encontrámos Jesus em Jericó, a cidade de passagem para Jerusalém. Agora, no evangelho da missa de hoje, já o encontramos em Jerusalém. Com esta mudança, muda também a perspetiva do evangelista e mesmo os conteúdos; enquanto o ciclo da vida de Jesus na Galileia se centrava no anúncio poderoso do reino de Deus, em Jerusalém domina a sombra da cruz e da morte.

Jerusalém é a cidade do sagrado; ali tudo respira religião, sob a influência do templo. Jerusalém é a cidade das peregrinações, do culto, dos sacrifícios no templo, dos sacerdotes, dos levitas, das abluções e ritos de purificação… E é o terreno dos grandes conflitos daquela sociedade com Jesus de Nazaré, um conjunto de conflitos que se agravam de tal modo de dia para dia que ele acaba por ser condenado à morte na cruz. Esta conflitualidade, de algum modo extremada pelos evangelistas entre Jesus e os representantes oficiais do culto judaico, leva-nos muitas vezes a pensar o conjunto da gente religiosa daquela época como uma massa homogénea, toda igualmente cega diante de Jesus e igualmente surda aos seus apelos de purificação religiosa. Mas na realidade não acontecia assim; havia também sacerdotes e levitas honestos, preocupados com a procura da verdade e de propostas religiosas verdadeiramente libertadoras. O escriba deste evangelho é, inequivocamente, uma dessas pessoas.

A pergunta do escriba é sobre “qual é o primeiro, ou o maior, de todos os mandamentos?”. Jesus troca-lhe as voltas, e não responde com um dos 10 mandamentos (ou todos os outros acrescentados na Lei), mas com um “credo”, com uma profissão de fé; e não com uma profissão de fé qualquer, mas com a profissão de fé do povo bíblico, que todo o crente judeu professava todos os dias: “Escuta Israel, o Senhor nosso Deus é o teu único Senhor”. Este credo, chamado “Shema” não é um credo como o nosso, feito na base de conceitos (“creio em Deus Pai todo poderoso…”), mas um credo feito na base dos acontecimentos históricos em que Deus interveio a favor do Povo: foi Ele que te tirou da terra do Egipto; foi Ele que fez contigo uma Aliança; foi Ele que te fez entrar na terra prometida…”.

Porque é histórico, é incarnado. O Deus do credo bíblico é um Deus que ama o seu povo e que age conforme esse amor. É um Deus presente, próximo e ativo. Ora aqui, sim, a multiplicação de normas e preceitos na Lei afastara o povo do seu Deus, para o concentrar no ritualismo e no formalismo, muitas vezes com profundo farisaísmo. Por isso Jesus, ao recordar àquele escriba que o maior de todos os mandamentos não é um mandamento em si mesmo, mas uma aceitação e um acolhimento do amor do Pai na história concreta, lembra-lhe logo a seguir que, por isso mesmo, este acolher a Deus é inseparável de acolher o próximo; ou se quisermos, este acolhimento de Deus acontece realmente quando acolhemos o próximo do mesmo modo que gostaríamos de acolher Deus, com toda a inteligência e com todo o entendimento.

Este escriba percebeu aquilo que o homem rico de há quatro semanas não tinha percebido: que cumprir todos os mandamentos não chega; maior do que todos eles, é acolher Deus e os irmãos na vida concreta. Por isso, este escriba está próximo do reino de Deus.

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