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1 novembro – solenidade de todos os santos

Jesus, visto por Mateus


Ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos céus a vossa recompensa». (Mateus)

Por sobreposição do calendário, a liturgia deste Domingo celebra a Solenidade de Todos os Santos, própria do dia 1 de Novembro. Anualmente, neste dia, a Igreja oferece-nos à meditação as chamadas bem-aventuranças, segundo o texto de S. Mateus. Vamos considerar três elementos deste Evangelho: o conteúdo, o lugar e os gestos.

Mateus “abre a vida pública” de Jesus com este texto das bem-aventuranças. Este é, por isso, o enunciado, segundo Mateus, de tudo aquilo que Jesus de Nazaré quis, acreditou, viveu e ensinou. O Reino de Deus que Jesus quer é o reino governado por estes valores; foi por estes valores que Jesus deu a vida; foram estes valores que ele ensinou todos os dias… Portanto, não estamos perante um simples discurso, nem mesmo só perante uma “introdução” ou um “programa” de vida de Jesus, ao princípio, mas estamos perante uma síntese, o resumo mais conciso de todos, da própria vida de Jesus, na perspetiva de Mateus.

Jesus de Nazaré foi o pobre em espírito, o humilde, o que chorou, o que teve fome e sede de justiça, o misericordioso, o puro do coração, o promotor da paz! E a todas estas bem-aventuranças, que Jesus viveu todos os dias e certamente terá proclamado muitas vezes, Mateus acrescenta uma outra, já para a Igreja insultada e perseguida nos dias em que ele escreve por seguir aqueles mesmos critérios de Jesus de Nazaré. Essa Igreja que segue os critérios de Jesus, sendo embora por isso insultada e perseguida, tem a recompensa celestial. É dela, afinal, que fala esta solenidade de “Todos os Santos”!

O lugar: Mateus situa este “ensinamento” de Jesus no cimo de um monte. A palavra “monte”, antes de remeter para um lugar físico, remete para um lugar teológico. O monte, como o templo ou o deserto, funciona em Mateus de modo ambivalente: é a um mesmo tempo o lugar da tentação e o lugar da revelação. Esses três “lugares” não são lugares físicos, mas lugares da densidade humana, diríamos do próprio coração humano, onde se guerreiam as forças do bem e do mal. Basta reparar que ainda apenas uma dúzia de versículos antes Mateus nos tinha dito que o diabo tinha conduzido Jesus a um monte muito alto… para O tentar! No Antigo Testamento a Lei tinha sido dada no alto do monte Sinai; mas era também no alto dos montes, nos altares edificados aos deuses Baal, que o povo cometia o maior dos pecados contra a Lei, a idolatria. E não é por acaso que o diabo no alto do monte tinha feito a Jesus exatamente esse pedido explícito: adora-me a mim… Sobre o monte, Jesus ensina! É o novo Moisés, que traz ao povo uma nova Lei. Mas o lugar “monte” remete-nos sempre para uma situação de escolha entre Deus e “deuses”, de escolha entre Jesus Cristo e a idolatria (todas as formas de idolatria, que são exactamente o contrário das bem-aventuranças: dinheiro, orgulho, prepotência, destruição, injustiça…).

Os gestos: viu, subiu, sentou-se, ensinou. A conjugação destes quatro gestos inscrevem este discurso de Jesus diretamente no contexto da profecia, mais ainda que no contexto da Lei. Profeta é o que vê com os olhos de Deus e ensina conforme vê! Mas não ensina como qualquer outro; ensina a partir do próprio Deus (sobe) e com a autoridade de Deus: sentou-Se. De facto, Jesus ensina sentado, como senhor do próprio monte!: ele não é só o novo Moisés, mas é maior do que Moisés! E se é maior do que Moisés, a Lei que dá é consequentemente maior do que a Lei de Moisés. Afinal, todos os manuais de moral cristã deveriam começar por este texto bem-aventuranças…

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