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12 de outubro – 28º domingo comum

A parábola das duas parábolas


Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O reino dos Céus pode comparar-se a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos, tudo está pronto. Vinde às bodas’. Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos, trataram-nos mal e mataram-nos. O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade. Disse então aos servos: ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’. Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados. O rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’ Mas ele ficou calado. O rei disse então aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes’. Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos». (Mateus)

Quem é que um rei convidaria para o casamento do seu filho? Bem, alguns familiares, com certeza, e depois aquelas pessoas cujo estatuto obriga a serem convidadas: outras famílias reais, embaixadores, membros da nobreza… O povo comum está fora! Portanto, não há aqui tanto um convite por afetos, mas um convite por obrigações. Há aqui um convite àqueles que têm a obrigação, pelo lugar que ocupam, de fazer um conjunto de coisas, entre as quais ir ao banquete de casamento do filho do rei. Recusando o convite e continuando ao mesmo tempo a ocupar os lugares que lhes dão o direito/obrigação de irem ao banquete, os convidados tomam ostensivamente uma atitude de confronto com o rei. Uma atitude que se agiganta até ao assassínio dos próprios servos do rei. Como consequência, o rei reage e faz valer a força dos seus exércitos contra eles.

Ora, se repararmos bem, esta parábola é dirigida aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, isto é, aos chefes políticos e religiosos. Então, o que Jesus diz é muito simples: assim como o rei daquela parábola destruiu os convidados que não cumpriram a sua obrigação, assim Deus vai destruir os chefes políticos e religiosos de Israel (e de todos os tempos) que não cumpram as suas obrigações para com Deus e para com o povo.

Depois, Mateus cola aqui uma parábola diferente, claramente messiânica, cuja lição parece ser esta: no Banquete do final dos tempos, nesse banquete em que Deus e o seu povo serão convivas da mesma mesa, entrará só quem for digno de se sentar à mesa de Deus.

Mas quem será digno de se sentar à mesa de Deus? Em rigorosa verdade, ninguém. Quando Mateus diz que a sala se encheu de “bons e maus”, mais do que dizer que uns eram bons e outros eram maus, diz que todos e cada um deles era ao mesmo tempo bom e mau. É assim que acontece com todos nós! Mas, curiosamente, apesar de todos serem bons e maus, só alguns são indignos! E são castigados por se quererem introduzir no banquete, sendo indignos. Significa isso, então, que a indignidade não vem de se ser mau, mas vem da pessoa se recusar a aceitar a amizade do rei naquele banquete para o qual já se não é convidado por obrigação (como acontecia na primeira parábola), mas sim por afeto e misericórdia. Nos dois casos há a mesma recusa do rei, ainda que no primeiro caso seja ostensiva e no segundo seja, digamos, dissimulada. Por isso nos dois casos há um castigo.

No fundo, quando Mateus cola assim estas duas parábolas, faz uma terceira parábola com as duas, cuja lição é: tal como são condenados aqueles que ocupam lugares de destaque no seio da comunidade e não cumprem ostensivamente as suas obrigações para com Deus e para com a comunidade, assim também são condenados aqueles que permanecendo no meio da comunidade parecem cumprir em tudo as suas obrigações, mas o seu coração está dissimulado e cheio de indiferença ou ira para com Deus e para com os irmãos.

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