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14 de dezembro – 3º domingo do advento

Viver direito


Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?» Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias». Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?» «Não sou», respondeu ele. «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não». Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?» Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram: «Então, porque batizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» João respondeu-lhes: «Eu batizo em água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». Tudo isto se passou em Betânia, além Jordão, onde João estava a batizar. (João)

O texto do evangelista João volta a colocar diante de nós a figura de João Batista, fazendo sublinhar duas coisas: 1. a convicção profundíssima de João de que a vinda do Messias está iminente; 2. a recusa profunda de João em assumir ele próprio esse papel de Messias: “Eu não sou o Messias”. O próprio facto dos judeus (supõe-se os chefes religiosos) terem mandado emissários perguntar a João como é que ele se via a si mesmo, dá a entender que os chefes religiosos judeus viam a sua figura e ação como uma boa “encarnação” do Messias.

Mas João vai mais longe, e não apenas recusa o papel de Messias, como até o papel de percursor (que Jesus depois lhe vem a atribuir). A pergunta sobre se ele era “Elias” faz eco de uma tradição segundo a qual o profeta “Elias” voltaria antes do Messias. Finalmente, João recusa mesmo o papel de “profeta”, embora fale, traje e se alimente com traços do profetismo. O profetismo tinha tido um grande esplendor na vida de Israel e de Judá até ao século IV antes de Cristo, mas desde essa altura não tinham aparecido mais profetas. Em todo o caso, segundo o Deuteronómio (Dt 18, 18), esperava-se também não apenas mais um profeta, mas o Profeta, que neste caso seria outro título do Messias. João recusa ser esse Profeta.

Diferentemente, João entende-se como “a voz” que reclama o cumprimento dos profetas. Para João não fazem falta mais profetas, nem que sejam Elias. Para João falta, sim, cumprir o que os profetas pediram. Cumprir. Endireitar, na vida de cada um e da sociedade, o caminho do Senhor. Viver direito! Não torto; não corcovado.

Curiosamente, são os fariseus que não entendem a resposta de João, quando eles deveriam ser os primeiros a entender, pois consideravam que Deus mandaria o Messias quando o caminho estivesse aplanado pela prática das coisas bem feitas na vida, a começar pelo cumprimento da Lei de Deus. Os essénios defendiam que Deus enviaria o Messias quando encontrasse uma comunidade purificada pela separação do mundo e pela purificação ritual; os sacerdotes acreditavam que Deus mandaria o Messias quando encontrasse uma comunidade de celebração perfeita; os zelotas acreditavam que Deus enviaria o Messias quando fosse restaurada a independência de Israel pela força das armas… Apenas os fariseus acreditavam que Deus enviaria o Messias quando os critérios de vida comum do dia-a-dia estivessem “convertidos”, “aplanados”. E são exatamente os fariseus que, em vez de se concentrarem na resposta de João, continuam a centrar-se na “autoridade” de João, depois deste ter reivindicado apenas o papel de “voz”, de eco, dos profetas antigos.

A resposta de João Batista aos fariseus é uma acusação iluminada já pela fé do evangelista na ressurreição de Jesus: ele está no meio de vós, vivo, ressuscitado, mas vós não o conheceis porque em vez de vos centrardes no caminho, e no que é importante – n’Ele, que é a Palavra – estais centrados na autoridade da “voz” e naquilo que apenas é prefiguração (batismo na água). Também hoje corremos o risco de nos centrarmos nas “vozes” e nas “autoridades”, em vez de nos centrarmos na Palavra e em viver direitos!

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