18 de maio – 5º domingo da páscoa
Viver da fé, sem fugas, sem truques, sem batota!
«Não se perturbe o vosso coração. Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim. Em casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse, Eu vos teria dito que vou preparar-vos um lugar? Quando eu for preparar-vos um lugar, virei novamente para vos levar comigo, para que, onde Eu estou, estejais vós também. Para onde Eu vou, conheceis o caminho». Disse-Lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais: como podemos conhecer o caminho?». Respondeu-lhe Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim. Se Me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. Mas desde agora já O conheceis e já O vistes». Disse-Lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta». Respondeu-lhe Jesus: «Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheces, Filipe? Quem Me vê, vê o Pai. Como podes tu dizer: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim próprio; mas é o Pai, permanecendo em Mim, que faz as obras. Acreditai-Me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim; acreditai ao menos pelas minhas obras. Em verdade, em verdade vos digo: quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço e fará obras ainda maiores, porque Eu vou para o Pai». (João)
O texto do evangelho é tirado do relato da Última Ceia de Jesus com os seus discípulos. Jesus lavara-lhes os pés, num gesto tão inaudito que escandaliza o próprio Pedro: “tu, a mim, nunca me lavarás os pés!”; segue-se a refeição, no decorrer da qual Judas sai com intenção de trair Jesus. Assim que Judas sai, Jesus faz uma espécie de despedida e de testamento para os outros apóstolos: vou partir; deixo-vos um mandamento novo. Pedro reage: “ Darei a minha vida por ti”. Jesus responde-lhe: achas mesmo?! Garanto-te que ainda esta noite me vais negar três vezes. Enfim, despedida, sofrimento, negação, traição, morte… O momento está carregado de tensão, de “perturbação do coração”.
É neste ponto, então, que encontramos o Evangelho da missa de hoje. É todo um texto intimista, por um lado fortemente dramático, sob a sombra da morte, por outro carregado de promessas de vida. Percebemos a agitação do grupo: Judas reagira incompreensivelmente, Pedro fala, João fala, Tomé fala, Filipe fala, o outro Judas (não o traidor, mas o irmão de Tiago) fala… Todos procuram uma saída para aquele beco sem saída. Para Judas, a saída era a fuga para a frente, com a traição. Acabava-se o mal pela raiz; para Pedro, a saída era lutar até ao último homem a morrer (Darei a minha vida por ti); para Tomé, a saída parece ser um bom plano de fuga, partilhado e assumido pelo grupo (queremos saber para onde vais e o caminho para lá chegar); para Filipe, a saída seria uma manifestação especial de Deus (mostra-nos o Pai, e isso nos basta!); para Judas, o irmão de Tiago, a saída parece ser acabar com o grupo, voltando à vida comum no mundo: “porque te manifestarás a nós e não ao mundo?” (v. 22).
Neste clima, Jesus, como o verdadeiro leader daquele grupo, reage pela positiva, tentando criar dinamismos de futuro, apesar da sua morte pessoal iminente: não se perturbe o vosso coração. Todo este drama vai terminar em triunfo da vida sobre a morte, e vós vivereis comigo! Acreditai em mim: Eu estou no Pai e o Pai em mim. Olhai para as minhas obras. Não são obras de Deus?! Mais: quando eu morrer, vou enviar-vos o Espírito do Pai que fará com que façais obras maiores ainda…
Agora, há uma coisa que permanece intocável: a unidade do Filho com o Pai não pode ultrapassar a dimensão humana do Filho. Não pode fazer batota: os homens são assim, sujeitos aos confrontos, às incompreensões, aos ódios, à morte injusta. Se o Pai fizesse a tal manifestação especial pedida por Filipe, obrigava pela força dessa manifestação Filipe e os outros a acreditarem, a reagirem doutro modo, a obedecerem à manifestação em vez de obedecerem à sua convicção pessoal e profunda alimentada na fé. Só há um caminho para que a morte ressuscite em vida nova: a fidelidade total ao Pai, na fé; sem truques; sem batota…
É esse o único caminho que Jesus tem para oferecer a Tomé e aos outros: a sua vida, o seu modo de viver a sua humanidade em toda a radicalidade. É vivendo a sua humanidade até ao fim que Jesus é o caminho, a verdade e a vida. E é por esse modo de viver a nossa humanidade que chegaremos ao Pai: “Desde agora (na minha morte) conheceis e vistes o Pai” (v. 7).
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