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19 de outubro – 29º domingo comum

Talvez a frase mais revolucionária da História


Os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes aceção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?» Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?» Eles responderam: «De César». Disse-Lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». (Mateus)

Para os judeus do tempo de Jesus o governo das coisas de Deus e o governo das coisas do mundo era praticamente a mesma coisa. Os sacerdotes e anciãos do povo governavam tanto as coisas da religião como as coisas da política; e os governos políticos puros, como os de Herodes ou do romano Pilatos, só tinham justificação se fossem também eles extensão da mão poderosa de Deus a favor do seu povo. Não havia nem poderia haver para a mentalidade judaica de então uma fronteira entre Deus e o governo das coisas. No fundo era uma mentalidade muito próxima da de alguns grupos religiosos extremistas atuais, que acham que Deus manda destruir tudo o que é ocidental só porque é ocidental.

Neste contexto, ter uma afirmação pública de condescendência para com o chefe máximo do invasor político, o imperador romano César, que personifica em si mesmo a negação do Deus do povo, era, com certeza, motivo da ira popular. Para se safar da ira do povo, Jesus só podia responder que não era legítimo pagar tributo a César. Mas, na sua astúcia, os fariseus enviaram também no meio da delegação farisaica uma delegação de herodianos, isto é, de seguidores de Herodes, que era amigo de César e rei de uma parte do país que incluía a Galileia, e queria naturalmente arrecadar os impostos pela via política pura. Então, se Jesus dissesse que não era legítimo pagar os impostos a César, era o mesmo que dizer que não se deviam pagar impostos a Herodes, e teria sobre si a ira dos herodianos. Em qualquer um dos casos os fariseus tinham garantido o seu objetivo: surpreender Jesus no que dissesse.

Como se não bastasse, os fariseus fazem ainda outra coisa: tentam manietar a resposta de Jesus à autenticidade da pessoa de Jesus. Seja qual for a resposta, será tida como uma resposta autêntica, da qual Jesus não se pode mais livrar nem justificar. Usam a autenticidade de Jesus, reconhecida por todos, contra o próprio Jesus.

Agora, um pormenor muito importante: diz o texto que Jesus percebeu isto tudo claramente, e por isso lhes chamou na cara “hipócritas”, o que poderia ser ofensivo para eles, mas era de facto verdadeiro e não despertava a ira nem do povo nem do rei. E, de certo modo, esta é que foi a verdadeira resposta de Jesus à pergunta deles: vós sois hipócritas”! A partir deste desmascaramento, Jesus tinha readquirido toda a autoridade para não lhes responder. Qualquer um de nós se acha no direito de não descer na discussão ao nível dos hipócritas!

Por isso o resto da resposta – “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” – surge a propósito da pergunta, mas, de facto, já nada tem a ver com a pergunta. Tem a ver, sim, com aquilo que demorámos quase 20 séculos a pôr em doutrina: a justa autonomia das realidades temporais.

Entendemos por justa autonomia das realidades temporais o reconhecimento de que a humanidade está dotada, na sua criação pelo próprio Deus, de inteligência, sensibilidade e vontade que lhe permite, em diálogo e cooperação dentre si, descobrir quais os melhores caminhos a seguir, quais as melhores decisões a tomar, sem ter que estar sempre a fazer de Deus um instrumento a favor desta ou daquela opção. E Deus continuará a ser (como verdadeiramente é) o Pai comum de todos os homens e mulheres, sejam eles governados pelo Sinédrio, por César ou por Herodes. Para percebermos o alcance revolucionário desta lição de Jesus, basta pensarmos nas novas “guerras religiosas” (se calhar apenas políticas) em que vemos o Norte de África, o Médio Oriente e também a Europa envolvidos. Continuamos a precisar de lutar para que este mandato de Jesus se cumpra: dar a César o que é de César, para que possamos dar todos a Deus e para que Deus seja de todos.

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