21 de dezembro – 4º domingo do advento
Ele é o Messias. N’Ele se cumprem as profecias!
Ao sexto mês, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?» O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra». (Lucas).
Os evangelhos da infância de Jesus são relatos tardios, cujo objetivo é o de uma a reflexão teológica sobre o mistério da incarnação do Messias. Assim, é evidente que o centro do relato deste evangelho é o anúncio feito a Maria e o seu “faça-se em mim segundo a tua palavra”. Por este relato, fica inequívoco que Jesus é o filho de Deus e não de José. Fica inequívoco que ele já tem desde a sua conceção uma missão salvífica (= Jesus). Fica inequívoca a sua humanidade pela natureza carnal de Maria.
Todavia, ficam ainda duas grandes questões para resolver em termos da mentalidade judaica e das suas expetativas messiânicas: o Messias deveria cumprir as profecias do antigo Testamento e o Messias deveria ser da descendência do rei David. O resto do relato do evangelho procura responder a essas duas questões.
Quanto à descendência de David, Lucas troca a descendência carnal pela descendência espiritual: Deus (e não a carne de José) é que lhe dará o trono de David! O que faz a descendência não é o sangue, mas a missão: ser Rei. Jesus é descendente de David, porque o próprio Deus, na sua vontade infinita, lhe dará o trono de David. Nada mais a dizer!
Quanto ao cumprimento das profecias (e do antigo Testamento) Lucas recorre a um processo literário fácil de perceber para os seus leitores orientais, mas complicado para nós, ocidentais. Recorre ao “sexto mês”. O sexto mês em causa (repetido duas vezes, para mostrar a sua importância) é o da gravidez de Isabel. Esta referência ao sexto mês tem um duplo significado:
1. por um lado permite a S. Lucas descrever em paralelo os acontecimentos relativos ao nascimento de João (antigo Testamento) com os acontecimentos relativos ao nascimento de Jesus (novo Testamento), sendo que os acontecimentos com Jesus superam sempre em grandeza e significado os acontecimentos relativos a João.
2. por outro lado, através de uma contabilística mais ou menos complicada, permite apontar Jesus como o Messias esperado, ainda antes da sua conceção, já desde a conceção do próprio João. Tentemos explicar estas contas em linguagem simples. Segundo uma profecia do profeta Daniel, Deus revelar-se-ia na 70ª semana: “setenta semanas foram fixadas ao teu povo e à tua cidade santa para conclusão da infidelidade, para cancelar os pecados e expiar a iniquidade, para instaurar uma justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos” (Dan. 9,24). Ora se contarmos todo o tempo que vai desde o anúncio a Zacarias, no Templo, de que será pai de João até à proclamação de Simeão, no Templo, tomando Jesus nos braços, de que os seus olhos viram a salvação, decorrem exatamente 70 semanas: 6 meses de gravidez de Isabel, mais 9 meses de gravidez de Maria, mais 40 dias até à apresentação de Jesus no Templo.
Fica assim inequívoca também a afirmação de que naquele menino anunciado pelo anjo Gabriel a Maria se cumprem as profecias. Ele é o Messias esperado; n’Ele se cumprem as profecias. Mais: nele ganha sentido todo o antigo Testamento. E ainda mais: com Ele acontece um novo Testamento, uma nova Lei, uma nova comunicação de Deus com o seu povo, que credibiliza e integra o Antigo Testamento mas vai muito para além dele.
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