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23 de fevereiro – VII domingo comum

Ser cristão

«Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Não odiarás do íntimo do coração os teus irmãos, mas corrigirás o teu próximo, para não incorreres em falta por causa dele. Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor». (Levítico)

Jesus disse aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado. Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito». (Mateus)

O texto do evangelho de hoje completa o que lemos na semana passada; faz parte do mesmo bloco em que Mateus junta diversos ensinamentos de Jesus e contrapõe estes ensinamentos à doutrina dos fariseus, com a expressão “foi-vos dito…; eu, porém, digo-vos…”. Se estamos recordados, Mateus antes de começar esta série de antíteses tinha tido o cuidado de dizer que Jesus não tinha vindo mudar a Lei de Deus, mas sim completá-la. Agora, a encerrar este bloco, volta a citar a própria Lei, para reafirmar que estas “mudanças” que Jesus exigiu não eram contra o espírito da Lei, mas contra as interpretações que os fariseus faziam dela. Cita exatamente o texto do Levítico que lemos na primeira Leitura: “sede santos como Deus é santo”, “sede perfeitos como o Pai do Céu é perfeito”.

Trata-se, portanto, de uma Lei da perfeição, da perfeição absoluta, à medida do próprio Deus. Uma perfeição que, podemos dizer, é humanamente impossível de alcançar, dada a nossa natureza corrompida pelo pecado. É, portanto, uma realidade que nós nunca iremos alcançar, mas a única realidade que pode orientar o sentido da vida cristã. Somos cristãos para sermos santos como Deus é santo. E tudo o mais deriva daqui.

E, todavia, se voltarmos a ler os exemplos dados por Jesus (conflitos, seduções, titubeamentos, sede de vingança, discriminação…) facilmente nos apercebemos de quão longe estamos deste ideal de perfeição. Ser cristão torna-se, então, uma luta de cada dia e de todos os dias, um eterno recomeçar, uns dias avançando muito, outros recaindo em situações que nos oprimem no pecado.

Claro que, dito deste modo, poderia parecer que ser cristão seria uma espécie de condenação absurda, significada no mito pagão de Sísifo, que fora condenado pelos deuses a empurrar uma grande pedra para o cimo de um monte, e sempre que estava quase a alcançar esse cume, a pedra resvalava e voltava novamente ao fundo do monte.

Mas a doutrina de Jesus afasta-se deste mito, pondo as coisas exatamente ao contrário em dois aspetos: do lado de Deus, porque Deus não condena ninguém! Ao contrário, “faz nascer o sol sobre bons e maus e cair a chuva para justos e injustos”; e do lado dos homens, porque ninguém é obrigado a ser cristão (nem é por não ser cristão que deixa de ter o mesmíssimo amor de Deus). Ser cristão torna-se simplesmente um projeto de vida assumido por cada um – na sua consciência íntima e em profunda comunhão com a comunidade dos outros crentes – que acolhe este desafio de santidade lançado por Jesus. Mesmo consciente de que nunca o alcançará. O esforço de ascese cristã, de superação do pecado e de crescimento na santidade, não é uma condenação, nem uma lei externa (“foi-vos dito”), mas é um desafio, uma proposta, um projeto permanentemente aberto e inscrito no nosso coração para o mais além, para o mais alto, para o mais perfeito, para Deus. Um projeto de vida que nós queremos seguir. É isso ser cristão.

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