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9 de março – I domingo da quaresma

Fidelidade a Deus



Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Diabo. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’». Então o Diabo conduziu-O à cidade santa, levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». Respondeu-lhe Jesus: «Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». De novo o Diabo O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-Lhe: «Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares». Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo deixou-O e aproximaram-se os Anjos e serviram-n’O. (Mateus)

O episódio das tentações de Jesus não é um relato jornalístico: não há nenhum monte muito alto do qual se vejam todos os reinos do mundo! O relato das “Tentações” de Jesus é teologia, isto é, é uma reflexão sobre a dimensão humana de Jesus e os caminhos que, historicamente, ele foi tentado a seguir. É uma reflexão feita com “imagens”, com “cenas”, à maneira de uma peça de teatro, mas apenas uma reflexão. Trata-se, como todo o evangelho, de um texto escrito por alguém (várias pessoas, em vários tempos) da comunidade crente para confirmar na fé os outros crentes dessa(s) comunidade(s).

Mais, é um texto em que tudo é simbólico: os 40 dias, o deserto, o templo, o monte alto. Nestes símbolos está contido o essencial da relação positiva de Deus com o povo hebreu: a libertação do Egito, a purificação do coração, a celebração da fé, a Aliança. Mas também o mais negativo dessa relação: a revolta contra Deus, o culto aos falsos deuses, a instrumentalização de Deus no culto, o espezinhamento dos irmãos.

Se estamos perante uma reflexão teológica, e não diante de factos passados tal e qual aqui são narrados, então também o Diabo deve ser visto como um símbolo. O Diabo, ou “o tentador”, neste evangelho, não é uma pessoa exterior a Jesus, mas apenas o símbolo da tentação que estava dentro do próprio Jesus. Jesus, na sua vida concreta de todos os dias, sentiu-se tentado a ter determinados comportamentos, a fazer determinadas escolhas, a agir segundo certos critérios; comportamentos, escolhas e critérios esses que até pareciam fortemente razoáveis (inclusive, justificáveis com a Palavra de Deus na Bíblia!), mas em relação aos quais havia outros comportamentos, escolhas e critérios bem maiores, bem mais santos, bem mais conformes à vontade de Deus.

Assim, devemos concluir que as tentações de Jesus não são sobre fins, sobre coisas a ter, mas são sobre meios, sobre os caminhos a seguir para obter as coisas que ele procura, sendo certo que aquilo que ele procura, mais do que tudo, é o reinado de Deus, é a construção de um mundo onde as relações entre as pessoas e das pessoas com Deus sejam cordiais, afetivas, verdadeiras, justas, santas.

Mateus coloca esta reflexão sobre as tentações de Jesus logo no início da vida pública de Jesus; melhor, ainda antes, entre o batismo e a vida pública. Colocando estas tentações antes ainda de qualquer confronto de Jesus com os fariseus ou os saduceus, antes das ameaças de morte, muito antes ainda da prisão e morte na cruz, Mateus quer fazer-nos ver duas coisas: que Jesus é tentado desde sempre, desde a primeira hora, permanentemente tentado; e que a tentação é interna a Jesus e não uma simples reação a fatores externos.

Mas, dito isto, importa ver que Jesus nunca se deixou cair em nenhuma dessas tentações, por mais persistentes, radicais e íntimas que fossem. E o caminho da sua vitória sobre as suas próprias tentações foi muito simples, embora extremamente exigente: tentar perscrutar sempre a vontade de Deus, e ser-lhe fiel. Sim, a reflexão sobre as tentações de Jesus também nos ensina que ele, desde a primeira hora, todos os dias, com toda a interioridade, em tudo pôs Deus em primeiro lugar. Mais do que nos falar das tentações, este evangelho fala-nos da radical fidelidade de Jesus a Deus Pai.

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