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Intervenção no Apartamento de Reinserção

O Apartamento de Reinserção privilegia a admissão de indivíduos sem suporte familiar ou outro tipo de vínculos o que leva a que a sua população venha com longos percursos de adições, sucessivas institucionalizações e que viveram grande parte da vida em situações de extrema exclusão social.

Muito embora os residentes do Apartamento não venham diretamente da rua, as situações de exclusão social a que estiveram sujeitos, bem como tentativas fracassadas de cura e reinserção, incutiram neles um conjunto de sentimentos negativos aos quais acrescem a desacreditação e desconfiança das estruturas de apoio.

As intervenções realizadas com esta população são centradas na promoção da pessoa, tendo como objetivo final a sua autonomização.

As primeiras abordagens ao sujeito são sempre muito delicadas e implicam a desconstrução de estereótipos e preconceitos que colocam o indivíduo numa postura defensiva que dificulta o estabelecimento de uma relação de empatia com os técnicos, determinante em qualquer processo de apoio.

Conquistada a confiança, a pessoa passa a sentir-se mais protegida, mais consciente e segura das suas capacidades, desenvolvendo um sentimento de pertença ao Apartamento e ao grupo, o que lhe proporciona estabilidade para se lançar no processo de reinserção. A orientação dos técnicos revela-se então fundamental, sendo muitas vezes determinante para o sucesso ou insucesso da reinserção. É necessário definir com os utentes um projeto adequado às suas competências, exequível e capaz de garantir segurança e continuidade num futuro mais distante.

Tratando-se na maioria dos casos de indivíduos que interromperam precocemente o percurso educacional e que do ponto de vista profissional são considerados indiferenciados, foi definido pela Instituição como estratégico trabalhar com eles a motivação para investir em processos de aprendizagem, dotando-os assim de instrumentos que potenciem a sua competitividade no mercado de trabalho. Desta forma, são definidos com os utentes projetos por etapas, que passam pela conclusão da escolaridade obrigatória, enquanto outros apostam na profissionalização numa área do seu agrado através da frequência de cursos de formação.

Um processo desta natureza necessita de tempo para a sua execução, mas é um processo consistente pois parte do reconhecimento das especificidades de pessoas que viveram em situações de exclusão social, centrando-se nas suas fragilidades que por norma bloqueiam a expressão e clarificação de alguns sentimentos e emoções.

Perdi-me… e reencontrei-me

“O mundo da droga não traz nada de bom, perdi o controlo de tudo, afastei quem mais gostava, perdi amor-próprio e o prazer das coisas boas da vida e de tudo que me fazia feliz.
Perdi amigos inclusive o meu melhor amigo neste mundo…
Hoje, penso que a minha vida não tem que ser assim e que não quero ser lembrado desta maneira.
A vida é muito curta e tem que ser bem aproveitada”

Testemunho de utente do Apartamento de Reinserção