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1 de fevereiro – 4º domingo comum

O espírito da não-conversão


Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem». O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele. Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!» E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia. (Marcos)

Depois da experiência do deserto, Jesus regressa para a Galileia e vai morar para Cafarnaum, que na altura seria uma cidade relevante, encostada ao lago de Tiberíades, enquanto Nazaré seria uma pequena aldeia perdida entre as montanhas. Há aqui uma “viragem” metodológica de Jesus, que procura estar próximo da “cidade dos homens”, onde circula um grande número de pessoas e há intrincadas redes de comunicação e comércio. Aliás, “a sua fama espalha-se rapidamente em toda a região da Galileia” exatamente porque Tiberíades está no centro desses circuitos de pessoas e bens.

Mas a mensagem que Jesus trás à grande cidade é uma mensagem de rutura com os padrões e estilos de vida comuns. De rutura, certamente com o estilo de vida religioso, com Jesus a acentuar a misericórdia sobre a lei, mas também de rutura com as atitudes e comportamentos mundanos, como a excessiva preocupação com os negócios temporais ou a exploração dos mais fracos pelos mais fortes, ou o esquecimento da caridade para com os órfãos e as viúvas… Marcos resume toda esta pregação de rutura na palavra “Conversão”. Além do mais, este apelo à “Conversão dos critérios de vida” aparecia como radicalmente novo, na energia que Jesus colocava nele, cheio de autoridade, e não como a repetição das velhas tautologias dos rabinos…

Ora o primeiro milagre que aparece no evangelho de Marcos é o que nos é relatado no Evangelho da missa de hoje: a expulsão de um espírito impuro. E que espírito impuro era esse? Exatamente o espírito da não-conversão. Aquele “espírito” que, diante da Palavra radicalmente nova, libertadora e “com toda a autoridade” de Jesus, vê nesse apelo à conversão uma “perda” em vez de uma “salvação”.  O que este espírito impuro declara a Jesus na sinagoga de Cafarnaum é uma coisa muito simples: – nós não estamos dispostos a mudar nada! Tu, Jesus, trazes uma pregação que exige a mudança dos nossos critérios de vida; mas nós, simplesmente, não queremos mudar. Se mudássemos, perdíamo-nos! Perdíamos a nossa santidade baseada no cumprimento estrito das obras da lei, perdíamos esta vaidade de nos sentirmos santos diante de Deus, perdíamos o nosso dinheiro, as nossas condições sociais superiores, o orgulho nos nossos títulos… Portanto, Jesus, vai-te embora; regressa para Nazaré.

O dramático deste “espírito impuro” é que ele percebe a verdade mas, em razão dos seus interesses, opta por a recusar. Ele percebe claramente que o apelo de conversão feito por Jesus de Nazaré é um apelo conforme à vontade de Deus. Mas recusa a vontade de Deus. E mais ainda: além do dramático que é, em si mesmo, optar por viver fora de Deus tendo o conhecimento do amor de Deus, este espírito está ainda carregado de outra impureza, a da mentira! Ele está na sinagoga, que é o lugar do culto de Deus pela comunidade; ele apresenta-se à comunidade como um crente, um praticante, alguém que vive em comunhão com essa comunidade. Mas isso é mentira, porque ele realmente não quer cumprir a vontade de Deus. Está ali apenas de corpo, não em espírito e verdade.

Diz depois Marcos que Jesus repreendeu aquele espírito impuro e que ele deixou o homem. Com esta afirmação, Marcos declara-nos que a Palavra de Jesus é superior a todos os “espíritos impuros” e que ela, essa Palavra, tem o poder de libertar todo e qualquer homem ou mulher de toda a impureza, por mais vil que ela nos pareça. O apelo à conversão, feito por Jesus de Nazaré, é um convite à salvação, não à perdição; um convite à salvação da nossa vida, realizada gratuitamente por Deus, em todo o seu amor, mas a que temos que dar o nosso “sim” pessoal.

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