11 de janeiro – Festa do Batismo do Senhor
O Senhor de todos
Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz aceção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. (Atos dos Apóstolos)
João começou a pregar, dizendo: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo». Sucedeu que, naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão. Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como uma pomba, descer sobre Ele. E dos céus ouviu-se uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência». (Marcos)
A liturgia de hoje coloca-nos diante do batismo de Jesus, segundo o relato do evangelista Marcos. É um relato constituído por três partes: a primeira sobre a pregação de João Batista, a segunda sobre o batismo de Jesus e a terceira sobre uma teofania ocorrida depois do batismo de Jesus. A descrição do batismo de Jesus, em si mesma, resume-se a uma única frase: “Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão”. O texto nada nos diz sobre como foi esse batismo, nem sobre as motivações de Jesus para se fazer batizar, nem sobre as consequências deste ato para a vida futura de Jesus. Diferentemente disso, o texto quer responder a esta pergunta: o que significa Jesus ter sido batizado?
A resposta é: significa que ele é o Messias. Esta é também a grande mensagem dos evangelhos da Infância de Mateus e Lucas. Mas Marcos não faz nenhum relato da infância de Jesus. Então, introduz esta mensagem central ao Evangelho no momento do Batismo de Jesus. E fá-lo recorrendo a três coisas: à figura de João Batista, à sua pregação e a uma teofania.
Figura de João – Já aqui vimos que os judeus, além do Messias, esperavam também um Precursor, alguém que viria antes do Messias e que teria um papel de preparar o povo para acolher o Messias. Ora aqui, ao contrário do que acontece noutros evangelistas, João Batista assume-se como esse Precursor, como o Profeta que havia de vir antes do Messias (“vai chegar depois de mim…”). Sendo assim, ficam cumpridas todas as profecias exigidas antes da vinda do Messias. Jesus pode ser afirmado como o Messias, porque tudo aquilo que era necessário e suficiente acontecer antes de ele vir, já aconteceu.
Pregação de João – João diz que “Ele batizará no Espírito Santo”. Por outras palavras, Ele será o Messias, o Salvador, o Redentor, aquele que nos redime do pecado e nos insere no amor original de Deus. Não é um homem como outro homem qualquer; nem sequer é apenas “um grande homem” ou “o maior de todos os homens”, alguém a quem podemos admirar e louvar pela sua sabedoria ou por ser uma pessoa de muito amor, que “passou fazendo o bem”… Mais, imensamente mais do que isso, Ele é o nosso Salvador, o único que nos pode oferecer a dignidade de nos encontrarmos com Deus libertos de toda a mancha do pecado pela ação misericordiosa do Santo Espírito de Deus.
Teofania – Como sabemos, uma teofania é um estilo literário no qual se coloca Deus a revelar-se de forma especial por meio de sinais, sons, vozes, palavras… Os autores sagrados recorrem à teofania para explicar que significado tem, aos olhos do próprio Deus, algum acontecimento histórico. Assim, Marcos apresenta-nos aqui uma teofania para explicar o significado do batismo de Jesus aos olhos do próprio Deus. E o significado é a afirmação divina da pessoa de Jesus, no contexto da Trindade: O Espírito desce sobre Jesus, habita totalmente Jesus, nada de Jesus (nem corpo, nem sentimentos, nem emoções, nem liberdade, nem vontade, nem desejo…) fica fora da total imersão no Espírito de Deus. E o Pai confirma este estado de “divindade”, revelando-O como o seu “Filho muito amado”.
Por isso Ele é, no resumo de Pedro, segundo o Livro dos Atos dos Apóstolos (2ª Leitura), “o Senhor de todos”, não só dos judeus, mas dos não judeus, não só dos cristãos, mas também dos não-cristãos. E “todo aquele que teme e pratica a justiça é-lhe agradável”.
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