14 de junho – 11º domingo do tempo comum
Das parábolas à Palavra
Jesus disse aos discípulos: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita». Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar? É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra». Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de entender. E não lhes falava senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos. (Marcos)
Marcos pegou em muitas das parábolas contadas por Jesus e juntou-as todas num bloco. O Evangelho de hoje é o final desse bloco (parte do capítulo IV), com as parábolas da semente que germina e do grão de mostarda e ainda uma observação sobre a utilização de parábolas por Jesus.
A vida pública de Jesus foi feita normalmente de interações pessoais e sociais: umas conversas aqui, uma controvérsia ali, num dia a referência a algum ditado popular ou a alguma história didática, noutro dia a partilha de uma reflexão aprofundada sobre algum texto da Escritura…O que dava consistência a estes ensinamentos era o seu estilo de vida muito coerente – um homem de “sim-sim”, “não-não”!(cf Mt 5, 37) – e uma ideia traduzida na expressão Reino de Deus.
Mas esta ideia de “Reinado de Deus” não era fácil de transmitir. Por um lado, o reino que Jesus anunciava era para a felicidade das pessoas já neste mundo; por outro lado, não era um reino deste mundo. Tomado como um reino deste mundo, provocava interpretações temporais erróneas, sobretudo numa sociedade em grande expetativa de um libertador político; mas se remetido para “o outro mundo”, deixava de ter força transformadora da História e dos critérios de vida. À sua imagem de Deus-Homem que aparece aos outros como apenas homem, o Reino é Deus a agir na História que aparece aos nossos olhos como apenas história. Mas como explicar este mistério?! Sendo a expressão que melhor traduz a mensagem que Jesus pretende passar (e por isso Jesus a usa), o “reinado de Deus” é ao mesmo tempo a expressão que mais depressa pode deturpar essa mesma mensagem! E, por isso, Jesus a usa com toda a prudência.
A linguagem em parábolas faz parte deste equilíbrio entre a necessidade de anunciar uma novidade introduzida por Deus na História e a necessidade de evitar confusões. As parábolas, mesmo as mais simples, são sempre um desafio à inteligência pessoal de cada um; e à sua emanação criativa; e à sua capacidade crítica. Não impõem verdades mas desafiam cada um a aproximar-se da verdade segundo a sua capacidade e a partir daquilo a que se é mais sensível, pois nem todos apreendemos as coisas do mesmo modo. Por isso Jesus lhes fala em parábolas, “conforme a sua capacidade de entender”.
Pesem essas vantagens, as parábolas têm também os seus limites. Mesmo sendo variadas, belas e bem construídas, levam-nos à porta da verdade mas não nos introduzem nela, pelo menos na sua compreensão sistemática. Por isso, em particular, Jesus explicava as suas ideias aos discípulos de modo mais direto, mais rigoroso. Enquanto discípulos (cristãos), não nos bastam as parábolas; precisamos da Palavra! Precisamos de penetrar na verdade total, na sua imensa profundidade.
E o que dizer das duas parábolas deste evangelho? Para além daquilo que pode ser a caminhada pessoal de cada um diante delas (é essa a sua finalidade!), poderíamos dizer que Marcos as contrapõe às parábolas anteriores, em que ele tinha sublinhado a necessidade das pessoas se converterem, de serem aquele terreno bom que dá muito fruto, de serem aquela luz que se faz ver e que alumia. Agora, em contraponto, apresenta-nos a tal dimensão mistérica do Reinado de Deus: o Reino, todavia, não é só História; o Reino é Deus a agir nela! Misteriosamente, quase invisivelmente, mas muito eficazmente: a vida é palco da santificação operada por Deus, que ama a humanidade.
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