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15 de fevereiro – 6º domingo comum

Um Deus que toca a impureza e a lepra


O Senhor falou a Moisés e a Aarão, dizendo: «Quando um homem tiver na sua pele algum tumor, impigem ou mancha esbranquiçada, que possa transformar-se em chaga de lepra, devem levá-lo ao sacerdote Aarão ou a algum dos sacerdotes, seus filhos. O leproso com a doença declarada usará vestuário andrajoso e o cabelo em desalinho, cobrirá o rosto até ao bigode e gritará: ‘Impuro, impuro!’. Todo o tempo que lhe durar a lepra deve considerar-se impuro e, sendo impuro, deverá morar à parte, fora do acampamento». (Levítico)

Veio um leproso ter com Jesus. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte. (Marcos)


A poderosa palavra de Jesus, que diz “Quero. Fica limpo” (e o leproso fica limpo!), evoca-nos a força da Palavra criadora do Pai: “Façamos a luz…” (e a luz apareceu). Jesus é deus mesmo. E com Jesus recomeçou uma criação nova e limpa de todas as manchas anteriores.

Mas ao poder da Palavra divina de Jesus junta-se agora um elemento afetivo. Jesus não apenas age como Deus, mas age como homem, tocando as pessoas, tocando a criação. Aliás, este elemento “tocar” é muito comum em Marcos. E Marcos, como sabemos, reflete a pregação de S. Pedro, que viveu com Jesus e foi o maior dos seus apóstolos. Poderíamos dizer, de algum modo, que este gesto de Jesus “tocar” as pessoas marcou de tal modo S. Pedro que ele, na sua pregação, nunca se terá esquecido de referir este enorme afeto humano de Jesus de Nazaré.

Percebemos, pois, que Marcos nos apresenta hoje de um modo muito vivo, este dupla natureza de Jesus: verdadeiro Deus e verdadeiro Homem; como Deus, poderoso nos efeitos da sua palavra recriadora; como homem, solidário com todos os outros homens, seu amigo, seu íntimo.

Vemos pela Primeira Leitura que na sociedade judaica, e na religião judaica, os leprosos eram considerados impuros. O afastamento deles do meio da sociedade era por motivo de saúde pública, para não contaminarem as outras pessoas. Mas a essa limitação física, e até como tentativa de uma explicação da mesma, logo se acrescentou uma limitação espiritual: os leprosos eram impuros, eram indignos de Deus e da comunidade. Assim, tocar-lhes era certamente correr o risco da contaminação corporal, mas era também, rigorosamente, pisar a certeza da contaminação espiritual.

Assim, se Jesus tivesse curado antes o leproso e só depois lhe tivesse tocado, tudo estaria bem; mas tocou-o antes de o curar; com isso, Jesus ficaria impuro. Ora, como é evidente, Jesus nunca foi impuro. Como Jesus disse noutra ocasião, não são as coisas exteriores ao homem (aquilo em que ele pode tocar) que o tornam impuro, mas as coisas que estão dentro do seu coração. Mas mesmo considerando isso, não deixa de ser um gesto arriscado porque choca com a “boa opinião” das pessoas que rodeiam Jesus. Como é que ele quer reivindicar ser santo e ao mesmo tempo faz gestos considerados “impuros” por todos? Mas a novidade de Deus revelada no homem Jesus é assim: um Deus que toca os pecadores. Por um justo, disse também Jesus, dificilmente alguém morreria, embora talvez se encontrasse ainda alguém; agora por um injusto, por um pecador, é que não se encontra ninguém que queira morrer. Apenas Deus.

Em todo o caso, se é certo que a impureza espiritual não se pode pegar a outrem pelo toque físico, o mesmo já não se pode dizer da impureza física, da lepra como doença. Tocando o leproso, Jesus correu mesmo o risco de ficar leproso também, de vir a viver fora da cidade e a andar andrajoso e com o cabelo em desalinho, gritando “impuro, impuro”. Mas Jesus, mesmo assim, tocou-o. As conclusões ficam à nossa consideração…

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