18 de janeiro – 2º domingo tempo comum
Uma catequese eclesial para os nossos dias
João Baptista estava com dois dos seus discípulos e, vendo Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus». Os dois discípulos ouviram-no dizer aquelas palavras e seguiram Jesus. Entretanto, Jesus voltou-Se; e, ao ver que O seguiam, disse-lhes: «Que procurais?» Eles responderam: «Rabi __ que quer dizer ‘Mestre’ __ onde moras?» Disse-lhes Jesus: «Vinde ver». Eles foram ver onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era por volta das quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, foi um dos que ouviram João e seguiram Jesus. Foi procurar primeiro seu irmão Simão e disse-lhe: «Encontrámos o Messias» que quer dizer ‘Cristo’; e levou-o a Jesus. Fitando os olhos nele, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas» que quer dizer ‘Pedro’. (João)
A liturgia de hoje coloca-nos diante dos primeiros discípulos de Jesus de Nazaré. Depois do seu Batismo, Jesus começa a proclamar a sua mensagem, provavelmente ainda no deserto, à beira do rio Jordão. Desconhecemos o teor dessa mensagem, embora não deva andar muito longe do núcleo principal da mensagem pregada pouco depois na Galileia: “O reinado de Deus chegou até vós! Convertei-vos!” Certo, todavia, é que era uma mensagem carregada de frescura, de vida, de Deus, a ponto do próprio João Batista apontar Jesus como alguém maior do que ele, e o indicar aos seus discípulos como alguém que valia a pena ser seguido.
Ora, este poderá ser um primeiro pensamento a retermos: Jesus aparecia aos olhos dos seus contemporâneos, mesmo dos mais conceituados e santos, como alguém que merecia a pena ser seguido! E se dele não transparecesse este “valor”, certamente não teria discípulos, porque nós só estamos dispostos a organizar a nossa vida em termos de uma nova aprendizagem, se julgarmos que essa aprendizagem nos é útil e que as pessoas que no-la transmitem são credíveis. Trata-se de uma evidência de toda a atualidade para a Igreja, que vê muita gente a afastar-se dela, no sentido contrário daqueles discípulos do Batista que se aproximam de Jesus. Que frescura, que vida, que Deus está na mensagem que passamos aos nossos contemporâneos e com que credibilidade pessoal?!
Um segundo aspeto evidenciado no texto é que Jesus não pretende impor as suas ideias de cima para baixo, ou de fora para dentro; Mais simplesmente, propõe uma experiência de vida. À pergunta “Rabi, onde moras?”, ele responde “Vinde ver”. Como quem diz: Entrai!, Não tenhais medo!, A minha casa está de portas abertas!, Podeis sentar-vos e comer. O texto omite do que conversaram durante aquele primeiro encontro; apenas diz que ficaram com ele durante um dia. E, de novo, surge aqui um desafio para a Igreja do nosso tempo: Só fará discípulos, se acolher…, porque ninguém está disponível para reorganizar a sua vida para aprender de quem se sente rejeitado.
Uma terceira ideia tem muito a ver com a prioridade pastoral da nossa diocese neste triénio: o discipulato missionário. André, depois de ter feito a experiência de viver na intimidade de Jesus, sente a necessidade premente de ir comunicar Jesus como o Salvador desejado por todo o povo ao seu irmão Simão. Ser discípulo de Jesus é ao mesmo tempo aprender com ele e transmitir essa aprendizagem aos irmãos. Mas, novamente, não é tanto uma transmissão em termos de doutrina, mas em termos de vida, de levar os irmãos a fazerem eles próprios a experiência de se encontrarem e estarem com Jesus. André não só anuncia Jesus a Simão, mas leva-o com ele até Jesus. Tem aqui todo o cabimento aquela conhecidíssima frase do Papa Bento XVI: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. Essa “força” do encontro com a pessoa de Cristo é singularmente vincada neste evangelho pelo “fitar de olhos” de Jesus.
Como última ideia, vale a pena olhar para esta opção de Jesus por dar mais relevo a Simão, que foi chamado por André, do que ao próprio André, o chamador, o missionário. Lição também para a Igreja do nosso tempo: devemos estar disponíveis para que muitas outras pessoas, ao entrarem na nossa comunidade, assumam lugares de relevo, lugares até mais importantes do que os nossos, que já somos cristãos há tantos anos!, porque é Deus quem fita os olhos, perscruta os corações e conhece as capacidades de cada um.
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