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22 de fevereiro – 1º domingo da quaresma

 

Dois resumos para todo o sempre


Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». (Marcos)


O primeiro domingo da quaresma apresenta-nos dois “resumos” feitos pelo evangelista S. Marcos, com os quais sintetiza dois grandes tempos de atividade de Jesus: o primeiro, o tempo que Jesus passou no deserto, sobre o qual temos muito pouca informação, mas temos grande reflexão teológica; o segundo, o tempo de pregação de Jesus na Galileia.

É certo que Jesus, antes de começar a pregar às multidões, viveu algum tempo no deserto. Terá tido discípulos já no deserto, com os quais terá formado uma comunidade à imagem da comunidade de João Batista. Aliás, o sinal de que estava na hora de deixar o deserto foi a prisão de João Batista, como lemos neste evangelho. Adivinha-se aqui um movimento contra estes grupos, perpetrado nomeadamente por Herodes. Seja como for, os evangelistas, excetuando quando falam do Batismo de Jesus, são omissos sobre o estilo de vida de Jesus no deserto.

Mas são grandiosos na reflexão teológica que fazem sobre esse tempo! Marcos, por exemplo, começa por dizer que esta ida de Jesus para o deserto não deve ser lida como um erro, ou um desvario, mas como um ato desejado por Deus: Foi o Espírito Santo que o impeliu a ir para o deserto. Para quê? Marcos responde: para jejuar durante quarenta dias. Já sabemos que quarenta dias quer dizer “um ciclo perfeito”, “uma geração”, uma totalidade com princípio, meio e fim, que desabrocha noutra coisa diferente dela, maior do que ela. Com esta expressão “quarenta dias”, os evangelistas dizem-nos que Jesus, durante o tempo que esteve no deserto, viveu um ciclo perfeito e total de jejum, que depois desabrochou na sua decisão de ir pregar o reino de Deus. E que jejum era esse? Não certamente um jejum de alimentos (embora no deserto a alimentação seja frugal) mas o jejum que consiste no despojar-se de tudo diante do Pai, para que o Pai possa fazer por Ele tudo o que quiser. E que despojamento é este? Mas que coisas são essas de que ele tem que fazer jejum para poder cumprir a vontade do Pai? São aquelas coisas com que Satanás o tenta: tudo aquilo que seja tentação de fazer a sua vontade em vez da vontade do Pai, tudo aquilo que seja tentação de esquecer o Pai, tudo aquilo que seja tentação de usar o Pai para atingir os seus objetivos.

Como é que Jesus vence essas tentações? Alimentando-se da Palavra de Deus, do amor de Deus. É esse pão da Palavra de Deus os anjos servem; não outro. Em todo o caso, a expressão “os anjos serviam-n’O” quer apenas dizer que Deus estava com Ele, que Deus o protegia.

Mas, ainda neste resumo, Marcos vai mais longe, e dá um salto teológico absolutamente pós-pascal: recria nesta passagem de Jesus pelo deserto o ideal paradisíaco, perdido pelo pecado de Adão, da comunhão entre todas as criaturas. Como Adão foi tentado, também Jesus foi tentado; como Deus protegia Adão, assim protege Jesus; mas Adão cedeu à tentação; e Jesus venceu-a. Pela cedência de Adão à tentação, criou-se a inimizade entre as criaturas; pela vitória de Jesus sobre a tentação, restaurou-se a amizade entre as criaturas (e, por isso, Jesus convive pacificamente com os animais selvagens).

O segundo “resumo”, faz a síntese da mensagem que Jesus proclamou na Galileia, indo de terra em terra. Essa mensagem resume-se praticamente apenas a duas coisas: à afirmação de que o tempo de expetativa da era messiânica tinha acabado, e que agora esse tempo se cumpria; à afirmação de que o despoletar efetivo desse tempo do cumprimento das promessas de Deus exigia o arrependimento dos pecados e a aceitação da novidade criadora e redentora de Deus.

É importante perceber isto: nem as tentações/ou a recriação acabaram no deserto; nem a pregação acabou na Galileia. São “resumos” de toda a atividade de Jesus, colocados logo no início da sua vida, para nos dizerem que Ele é e o que fez. E são resumos de toda a atividade da Igreja até aos novos céus e nova terra, onde se cumpra aquele ideal paradisíaco da fraternidade entre todas as criaturas.

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