8 de fevereiro – 5º domingo tempo comum
Um relato de totalidade
Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios. (Marcos)
Neste pequeno texto do Evangelho podemos encontrar 6 cenas:
1ª cena – a cura da sogra de Pedro. Esta cena está colada ao evangelho da semana passada, em que vimos Jesus na sinagoga de Cafarnaum a deixar as pessoas espantadas com a sua doutrina. E estavam admiradas não só por causa da novidade, da frescura e da autoridade com que Ele ensinava, mas também do conteúdo do Seu ensinamento: as pessoas perceberam que seguindo aquele ensinamento tudo mudaria nas suas vidas. E havia aqueles que se recusavam a mudar, aqueles que apesar de perceberem que Ele era “o santo de Deus”, preferiam continuar como estavam, “possuídos por um espírito impuro”. A sogra de Pedro é, de certo modo, o inverso daquele homem “com um espírito impuro”: desde logo, não é um homem, mas uma mulher (numa sociedade em que as mulheres não eram consideradas); não está na sinagoga, mas em casa; não sofre do espírito, mas da carne; não tem nada a perder, apenas a ganhar; não é agitada violentamente ao ser curada, mas levanta-se suavemente pela mão de Jesus. E enquanto o “espírito impuro” fugiu, ela põe-se a servir à mesa. Curiosamente, no evangelho de Marcos, estes são os dois primeiros milagres de Jesus e devem ser lidos como apenas um só: Jesus cura o corpo e o espírito, os homens e as mulheres, os integrados e os marginalizados, os importantes e os simples, na sinagoga e em casa. E mais: cura os males da alma (pecado) e cura os males do corpo (febre), porque a pessoa é uma só. Para Marcos, desde o início, Jesus é aquele que liberta a humanidade (o homem e a mulher concretos) de todos os males.
2º cena – Jesus cura muitos doentes e possessos. Esta cena amplifica os dois milagres anteriores, reforçando a ideia do poder curativo de Jesus, que é total em três aspetos: no poder que Jesus tem de curar corpo e alma; nas pessoas a quem se dirige (trouxeram-lhe todos os doentes e possessos; e a cidade estava lá toda); e em todo o tempo. De facto, esta cena é já depois do sol-posto, por causa de nessa altura já ter passado o sábado; os judeus mudavam os dias ao pôr-do-sol. O poder de Jesus, manifestado ao sábado (dia do Senhor) continua total no tempo profano, no tempo todo.
3ª cena – Jesus reza sozinho, de manhã cedo. O poder “curativo” de Jesus nasce da oração, da intimidade com o Pai.
4ª cena – os discípulos (e a multidão) procuram Jesus. Os discípulos encontram-n’O; a multidão não… Os discípulos procuram-n’O com persistência; a multidão não…
5ª cena – Jesus toma a decisão – a partir da oração em que estava – de ir pregar “às povoações vizinhas”. Salta por cima do “recado!” dos discípulos, não se deixa aprisionar aos que O aplaudem, foge de voltar atrás, ao encontro daqueles que estão de braços abertos para O receber. Dá-se totalmente, sem a recompensa de ser reconhecido, porque Ele veio para todos e não só para alguns.
6ª cena – Jesus acaba por ir por toda a Galileia, além das aldeias vizinhas. E o que faz em toda a Galileia é exatamente a mesma coisa que fez na sinagoga de Cafarnaum: pregar e expulsar os demónios.
Ficou claro: para Marcos, Jesus é Aquele que anuncia e Aquele que cura, a partir da sua intimidade com o Pai.
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