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8 de março – 3º domingo da quaresma

Centrados numa outra realidade


Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo  os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?» Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?» Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem. (João)


Ao contrário do que acontece com os outros evangelistas, que colocam esta cena na parte final da vida pública de Jesus, S. João coloca a expulsão dos “vendilhões” do templo logo no início do seu evangelho, ainda antes mesmo de apresentar Jesus aos poderes religiosos judeus (conversa com Nicodemos), aos samaritanos (conversa com a Samaritana) e aos poderes políticos (cura do filho de um funcionário real). Se tomarmos o templo como o lugar físico por excelência da relação do homem com Deus, percebemos que João, de algum modo, vê neste episódio o enunciado, o “sinal”, da grande missão de Jesus: Jesus tem como projeto da sua vida a purificação do templo, ou seja, a purificação da relação do homem com Deus!

Uma outra nota a sublinhar é que S. João recorre muito frequentemente a jogos de palavras nas conversas que Jesus mantém com os seus interlocutores, com estes a darem um sentido material às palavras e Jesus a dar-lhes um sentido teológico. Assim acontece aqui, com os judeus a falarem do templo “material” e Jesus a falar do templo que é “o seu corpo”. Ou seja, João alerta-nos para a necessidade de esquecermos os bois, as ovelhas e os cambistas, que são o que menos interessa neste episódio, e para retermos o corpo de Jesus ressuscitado, triunfante sobre todas as espécies de profanações, como o único templo pelo qual alcançamos a relação sem mancha com Deus. Vale a pena repetir: “Ele falava do templo do seu corpo”. É esse o verdadeiro tema deste episódio, pelo qual, como discípulos, acreditamos na Escritura e na palavra de Jesus.

De qualquer modo, o gesto físico de expulsar os comerciantes e derrubar as bancas existiu. E todos percebem que esse gesto comporta uma reivindicação messiânica. Por isso é que os discípulos evocam o salmo 69 como explicação para esse comportamento: “devora-me o zelo da tua casa” (v 10); e por isso é que os judeus pedem um “sinal” que credibilize essa reivindicação de Jesus. Mas quer a evocação das Escrituras, quer o pedido de sinais, sem a Ressurreição desembocam no nada. É a Ressurreição que é o sinal para os que pedem sinais, e é a Ressurreição que é interpretação para os que leem as Escrituras: a reivindicação tem toda a credibilidade. Jesus de Nazaré é o Messias esperado. Não há outro.

Reparemos por fim que o próprio Jesus dá uma explicação do seu gesto: “Não façais da casa de meu Pai casa de comércio”. E, dentro ainda daquele jogo do duplo sentido das palavras, novamente podemos ter o comércio que é venda de pombas e o comércio que é a venda de… Deus. Sim, a “venda” de Deus, a transformação de Deus num instrumento que me é favorável e que eu posso negociar, essa que já foi a tentação de Jesus no pináculo do templo, persiste como a maior tentação no espaço cultual do templo. A ponto de poder usurpar o lugar dos “gentios”, que era o espaço onde as bancas foram instaladas; a ponto de impedir a entrada no templo dos cegos e dos coxos (cf Mt. 21, 14). Há por aqui qualquer coisa que parece tocar os repetidos apelos do Papa Francisco para o nosso tempo…, já para esta Quaresma.

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