8 de junho – domingo de Pentecostes
A íntima comunhão de Deus com o seu povo
Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas. (Atos dos Apóstolos)
Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo. […] Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. […] Na verdade, todos nós __ judeus e gregos, escravos e homens livres __ fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. (1ª Coríntios)
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». (João)
Dizíamos na semana passada que no evangelho de Lucas a Ascensão aparece no dia da Ressurreição; mas que, apesar disso, o próprio Lucas no Livro dos Atos a colocou quarenta dias depois da Páscoa. E, agora, vemos no evangelho de João que o dom do Espírito Santo é dado aos discípulos, sob a forma de sopro, “na tarde daquele dia, o primeiro da semana” (também no dia da ressurreição). E, apesar disso, Lucas coloca esse Dom do Espírito 50 dias depois da Páscoa. Repetimos: a ressurreição de Jesus, a sua Ascensão ao Pai e o Dom do Espírito Santo são um ato único do mistério de Deus. Os apóstolos, e outros discípulos com eles (como Maria, como Madalena…) captaram esse Mistério de um modo que não é evidente para nós. Talvez nem para eles! A sua preocupação não foi, pois, explicarem-nos como é que eles captaram esse Mistério de Deus, mas como eles o viveram e o que significou para eles. Assim, a narração de Lucas (no Livro dos Atos dos Apóstolos, que lemos na 1ª Leitura) da descida do Espírito Santo sob a forma de línguas de fogo, no dia de Pentecostes, é catequética. Lucas não quer dizer como é que o Espírito Santo “desceu” sobre os apóstolos, mas o que significa o Espírito Santo ter habitado a vida dos Apóstolos, a vida da Igreja.
A Festa do Pentecostes tinha sido a festa das Colheitas; depois passou a ser a Festa da Aliança de Deus com o seu Povo no monte Sinai; e, por consequência, a Festa da Lei, que fora dada por Deus ao Povo nessa Aliança. É, portanto, a festa que celebra a íntima comunhão de Deus com o seu povo, primeiro do Deus que dá cereais e frutos, depois do Deus que se dá a si mesmo em Aliança, e de um povo santo que caminha na Lei do Senhor. É esta intimidade entre Deus e o povo – feita de dom e santidade – que Lucas vê refeita pelo dom do Espírito Santo. Por isso relaciona esse Dom com a festa do Pentecostes. Mas há grandes diferenças: agora é uma intimidade de Deus não já com o antigo povo do deserto, mas com o novo povo de Deus, a Igreja; não já de modo a excluir todos os outros povos que não sejam judeus, mas de modo a incluir todos os outros povos de todos os meridianos e latitudes do mundo. Mais longe ainda: uma intimidade que refaz a grande unidade do género humano antes de Babel (imagem mítica para a confusão das línguas).
No fundo, na 1ª Leitura temos o mesmo ensinamento que S. Paulo já tinha feito alguns anos antes (2ª leitura). Só que S. Paulo em vez de usar a linguagem figurativa da festa judaica do Pentecostes, fá-lo numa linguagem mais objetiva. Mas lá está refeita a intimidade com Deus (Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo), lá está afirmado Deus que se dá como Dom (É Deus que opera tudo em todos) e lá está afirmada aquela nova visão de universalidade da aliança de Deus com a humanidade: universalidade de culturas (judeus e gregos) e universalidade de situações de vida (escravos e homens livres).
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