12 de abril – 2º domingo de páscoa
Para aferir a nossa fé…
A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade. (Atos dos Apóstolos)
Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele.[…] Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. (1ª João)
Na tarde daquele dia, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». […] Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» […] (João)
Embora não pareça, há um elemento comum a estes três textos, e que podemos referir como “a materialidade”. E não deixa de ser curioso que a liturgia, logo no segundo domingo de Páscoa, quando poderíamos estar tentados a refugiarmo-nos em “espiritualidades desencarnadas”, nos chame para a materialidade “das coisas da fé”! Vamos ver:
A Primeira Leitura oferece-nos um “resumo” da vida dos primeiros cristãos. Neste resumo aparece em destaque a “vida fraterna” dos cristãos, a começar pela partilha das coisas materiais. À distância de 2000 anos, podemos ver nesta partilha alguma ingenuidade; mas cabe perguntar se a nossa “indiferença” atual (para citar a mensagem quaresmal do Papa Francisco) têm alguma coisa de cristão?! Manifestamos a nossa fé na ressurreição de Jesus em alguma coisa de partilha material?!
Na Segunda Leitura, João insiste que Jesus é o Filho de Deus não só pela água, mas pela água e pelo sangue! Ser filho de Deus pela água, refere-se ao batismo; ser filho de Deus pelo sangue, refere-se à carne e ao sangue mesmo. Ou seja, João insiste que Jesus é o Filho de Deus não só espiritualmente (tal como nós também somos filhos de Deus, pela água do batismo), mas fisicamente, carnalmente, materialmente. Jesus de Nazaré é verdadeiramente Deus de Deus, desde toda a eternidade.
No Evangelho, João volta a insistir na “materialidade”, na “carne” de Jesus, mesmo estando ele já ressuscitado e aparecendo no meio dos discípulos numa sala com portas e janelas fechadas. O que Tomé reclama, e o que Jesus lhe oferece como prova da ressurreição, é tocar fisicamente os sinais da cruz. O ressuscitado é o crucificado, o mesmíssimo Jesus de Nazaré, confirmado como tal nos sinais da crucifixão deixados na sua carne.
Diz João que este Tomé era chamado “Dídimo”, ou seja “gémeo”. Gémeo de quem? Talvez de algum outro irmão ou irmã, porque não? Mas aqui, neste contexto, seguramente nosso irmão gémeo, ou melhor ainda, seguramente o irmão de quem todos nós somos gémeos: gémeos nas dúvidas e gémeos no ato de fé pelo qual confessamos um único absoluto na nossa vida, Jesus de Nazaré, “nosso Senhor e nosso Deus”. Sim, aquele homem que viveu há 2000 anos na Palestina e que foi crucificado é o nosso Senhor, o nosso Deus. Não um fantasma, não um espírito desencarnado, não alguém sem as marcas das mãos e do lado, mas um homem muito concreto, com marcas corporais escritas na contingência da sua história pessoal, algumas bem dolorosas: Jesus, chamado o Nazareno.
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