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10 de Janeiro – Baptismo do Senhor

FESTA DO BAPTISMO DO SENHOR
Is 42, 1-4.6-7; Sl 28; Act 10, 34-38; Lc 3, 15-16.21-22

Pontos de ruptura e de união

               Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele». (Actos dos Apóstolos)

                O povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias. João tomou a palavra e disse-lhes: «Eu baptizo-vos com água, mas vai chegar quem é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias. Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo». Quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi baptizado; e, enquanto orava, o Céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do Céu fez-se ouvir uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência». (Lucas)
 
Pontos de ruptura e de união
            Celebramos hoje a festa do Baptismo de Jesus. No Evangelho, tirado de S. Lucas, podemos distinguir três partes:
            1. a grande expectativa messiânica dos tempos de Jesus que, como já aqui referimos noutras alturas, tinha todas as probabilidades de recair (e recaía para muito gente) sobre João Baptista. João recusa o papel de Messias, mas participa e alimenta activamente (d)o messianismo do seu tempo, considerando que o Messias seria alguém a quem ele próprio não seria digno de desatar as sandálias!
            2. o Baptismo de Jesus, que Lucas reduz, em si mesmo, a uma grande insignificância: “quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi baptizado”. Neste contexto, Jesus foi apenas mais um de “todo o povo”, quase como participante ingénuo no movimento baptista que então também estaria no seu auge e de que João era uma figura proeminente. A verdade é que Lucas, por motivos teológicos, não quer dar uma importância excessiva ao baptismo de Jesus, dado que para ele Jesus já era inequivocamente o Filho de Deus desde o Seu nascimento. De qualquer modo, Lucas coloca o baptismo de Jesus no “final” do baptismo de “todo” o povo, o que faz com que este momento seja assumido pelo evangelista como o ponto histórico mais objectivo do fim do antigo Testamento e de início do novo Testamento, um momento simultaneamente de ruptura e de união desses dois grandes tempos da História da relação entre Deus e a humanidade.
            3. uma teofania, isto é, a afirmação de que esse baptismo afinal significava ou significou muito mais do que o acto em si, através do recurso a um estilo literário que consiste em pôr o próprio Deus a revelar o significado das coisas. Mas aquilo que o próprio Deus revela (“Tu és o meu Filho muito amado”) é apenas uma citação de um salmo (2,7) e, de algum modo, também de Isaías (1ª Leitura). Nesse sentido, trata-se mais de uma afirmação sobre a missão de Jesus (ser Messias) do que sobre a identidade (Filho). Para Lucas, como dissemos, Jesus era inequivocamente o Filho de Deus desde o seu nascimento e o baptismo nada acrescenta a essa identidade; o baptismo esclarece, sim, a missão: Deus enviou o Seu Filho ao mundo para por Ele cumprir as suas promessas de libertação messiânica…
            Por tratar também de um ponto de ruptura e de união, que de algum modo concretiza factualmente o que o baptismo de Jesus apenas simbolizara, a segunda Leitura merece uma referência especial. Situa-se num momento crucial do livro dos Actos dos Apóstolos, o momento em que Pedro (a Igreja) pela primeira vez reconhece que a salvação trazida por Jesus Cristo é para todas as pessoas e não só para os judeus; a Igreja reconhece que “Deus não faz acepção de pessoas” e que “em qualquer nação, quem O teme e pratica a justiça é aceite por Ele”. É uma novidade tão grande (acompanhada do gesto de Pedro entrar em casa de um pagão, Cornélio), que os outros apóstolos vão disso pedir contas a Pedro… Quem depois vai dar corpo a esta expansão da Igreja para fora do judaísmo vão ser Paulo, Barnabé, Marcos, Silas, Lucas, etc., mas o próprio Lucas faz questão de dizer que é Pedro, aquele que preside à Igreja no seu todo, quem abre essa porta, e a abre conscientemente à luz do Mistério de Deus desvelado em Jesus de Nazaré: Deus é um Deus para toda a humanidade!
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