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16 de Janeiro 2011 – II Domingo Comum

Is 49, 3.5-6; Salmo 39; 1 Cor l, 1-3; Jo 1, 29-34

            [No dia seguinte] João Baptista viu Jesus, que vinha ao seu encontro, e exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. É d’Ele que eu dizia: ‘Depois de mim vem um homem, que passou à minha frente, porque era antes de mim’. Eu não O conhecia, mas foi para Ele Se manifestar a Israel que eu vim baptizar na água». João deu mais este testemunho: «Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e permanecer sobre Ele. Eu não O conhecia, mas quem me enviou a baptizar na água é que me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e permanecer é que baptiza no Espírito Santo’. Ora, eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus».

Visto, tocado…

            Como já aqui referimos algumas vezes, a reflexão da Igreja sobre o mistério de Jesus foi progressiva; e oS textos bíblicos manifestam essa progressividade. Ora este texto do evangelho de João deve ser situado no final de toda a reflexão bíblica sobre Jesus, lá entre os anos 90 e 100. E o final de toda essa reflexão chega a esta conclusão: “Ele é o Filho de Deus”. João abre e fecha o seu evangelho com essa afirmação basilar: “Ele é o Filho de Deus”, não num sentido metafórico, simbólico ou parcial, mas o Filho de Deus desde toda a eternidade, Deus de Deus! Mas ao mesmo tempo que a Igreja chega a esta conclusão última sobre Jesus de Nazaré, e que João a plasma no seu Evangelho, a Igreja vê-se obrigada a afirmar também que, apesar de ser totalmente Deus, Jesus de Nazaré é de igual modo total e verdadeiramente homem, nascido do seio de Maria: “depois de mim, vem um homem”!

            Para um grupo largo de pessoas, para a maioria!, por alturas do ano 100 isto era simplesmente absurdo; e mesmo muitos cristãos não conseguiam aceitar isto, e entendiam ou que Jesus não tinha sido verdadeiro Deus (mas apenas uma pessoa a quem Deus dera poderes especiais), ou que não tinha sido verdadeiro homem, mas Deus disfarçado com “roupagem” humana.

            Como se estas duas dificuldades não chegassem, estava ainda bastante divulgada uma corrente de pensamento (conhecida globalmente como gnosticismo), a que muitos cristãos aderiam, segundo a qual para chegar ao conhecimento da verdade sobre Deus bastava “a sabedoria do coração”, um certo conhecimento intuitivo e transcendental (acima da matéria, da razão ou da experiência…) de Deus. Uma certa “iluminação” pelo mergulho da pessoa na ascese espiritual. A pessoa considerava que conhecia Deus, porque na sua experiência espiritual o conhecia. Para muitos cristãos que assim pensavam, Jesus de Nazaré fizera ele próprio uma experiência deste tipo e aquilo que ensinara fora apenas essa experiência. Mas, agora, Jesus não era necessário para a fé, para o conhecimento de Deus, porque esse conhecimento mais profundo como que era prévio à reflexão sobre Deus, e muito acima da existência terrena de Jesus.

            Chegamos assim ao ponto onde deve ser situado o texto do Evangelho na liturgia deste Domingo: a clara afirmação da total divindade e da total humanidade de Jesus, por um lado, e a recusa de todo o tipo de gnosticismo, pelo outro.

            João Baptista diz duas vezes que “antes não O conhecia”. E o verbo ver, neste pequeníssimo texto, é usado quatro vezes! O que o evangelista João nos diz é que sabemos que Ele é Deus, não por um conhecimento intuitivo, místico, desencarnado…, mas porque vimos! E porque vimos não uma pessoa qualquer, mas aquela pessoa concreta totalmente habitada pelo Espírito de Deus: Jesus de Nazaré. A fé cristã é sempre o encontro, à vista!, com este homem de Nazaré. Por uma razão muito simples: porque aquele homem de Nazaré é totalmente Deus, desde sempre. A própria expressão colocada na boca do Baptista – “[Ele] era antes de mim” – evoca o nome de Javé: “Eu sou O que é”. E João baptista, biblicamente, como sabemos, representa todo o Antigo Testamento!

            Aliás, a prova de que o evangelista está a tentar mostrar que a fé cristã nasce do encontro pessoal e testemunhal (“eu vi e testemunho”) com Jesus de Nazaré encontra-se na própria estrutura do Evangelho: João está a narrar, numa semana completa, todo o modo como Deus dispôs a sua estratégia de salvação do homem, desde o Antigo Testamento (1º dia) até ao Banquete no Reino (Bodas de Caná, no sétimo dia). O evangelho de hoje é o segundo dia: o dia em que só há uma figura: Jesus que vem ao encontro da humanidade, e é reconhecido por ela como Deus, porque ela o viu, numa história concreta, com atitudes e comportamentos concretos, totalmente humanos.

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