15 de dezembro – 3º domingo do advento
Um Deus apenas bom
João Baptista ouviu falar, na prisão, das obras de Cristo e mandou-Lhe dizer pelos discípulos: «És Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?» Jesus respondeu-lhes: «Ide contar a João o que vedes e ouvis: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo». Quando os mensageiros partiram, Jesus começou a falar de João às multidões: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas? Mas aqueles que usam roupas delicadas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim __ Eu vo-lo digo __ e mais que profeta. É dele que está escrito: ‘Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, para te preparar o caminho’. Em verdade vos digo: Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele». (Mateus)
Mateus, com este texto, começa a 4ª secção do seu evangelho, sobre o mistério do Reino dos Céus. De algum modo, é um texto introdutório a essa secção. Compõe-se de três partes: a pergunta de João Batista; uma compilação de frases do Antigo Testamento que Jesus usa para responder aos emissários de João; um discurso às multidões, contextualizado pela figura de João Batista, mas realmente sobre o Reino de Deus.
João Batista está preso e, da prisão, manda alguém perguntar a Jesus se é ele o Messias esperado. Evidentemente, a pergunta não é exclusiva de João, mas anda no espírito e na boca de muita gente: aquele pregador galileu, tão único no seu modo de estar e falar, não será ele o Messias esperado?! A pergunta ainda é mais forte porque Jesus, por um lado, corresponde aos traços idealizados pelas pessoas sobre o Messias; mas, por outro lado, é absolutamente o contrário de muitos desses traços. O Messias era idealizado com duas caraterísticas principais:
– por um lado, seria a presença amorosa e libertadora de Deus no meio do seu povo;
– por outro lado, seria o braço justiceiro e castigador Deus para com os inimigos e opressores do seu povo.
Ora a resposta de Jesus, citando explicitamente o Antigo Testamento, isto é, as expetativas das pessoas, é no sentido de afirmar que ele é o Messias porque cumpre a primeira parte dessas expetativas: ele é a presença amorosa e libertadora de Deus no meio do seu povo! Mas, depois, Jesus em vez de dizer que é também o Messias porque é o castigador de Deus contra os opressores do seu povo, omite essa parte e troca-a por uma advertência: “e bem-aventurado o que não encontra em mim motivo de escândalo”. Então, ficam duas perguntas: 1. porque é que Jesus omite a segunda parte da resposta?; 2. do que é que as pessoas se poderiam escandalizar? Resposta à primeira questão: Jesus não aceita essas caraterísticas de justiceiro e castigador como definidoras do papel do Messias e por isso as omite; resposta à segunda questão: as pessoas podem-se escandalizar exatamente por isso, por ele entender o Messias como pura expressão da bondade de Deus, do perdão de Deus, da misericórdia de Deus.
Assim, a afirmação chave desta passagem que lemos parece ser a de que o Reino de Deus, tal como Jesus o entende, é o cumprimento de todas as promessas do Antigo Testamento mas, ao mesmo tempo, é também uma rutura absoluta com esse mesmo Antigo Testamento. É uma realidade completamente nova e, definitivamente, mais excelsa.
E, por isso, finalmente, não devemos entender a afirmação de que “o menor no reino dos Céus é maior do que João” apenas como o fim de um ciclo histórico (Antiga Aliança) e o início de outro (Nova Aliança), mas também como compreensão do que é o reino dos Céus anunciado por Jesus: o da pura bondade de Deus. João Batista, no seu rigor absoluto, e até por causa desse mesmo rigor, não apreendera essa ideia de que Deus é totalmente misericórdia. Segundo Jesus, quem acolher Deus como Pai infinitamente misericordioso, por muito pequenino que seja, é maior do que João Batista.
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