22 de dezembro – 4º domingo do advento
Os evangelhos da infância de Jesus
O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa. (Mateus)
Dos quatro evangelistas, apenas dois (Mateus e Lucas) falam do nascimento de Jesus. Marcos, que escreve antes deles, começa o seu evangelho apresentando Jesus já a ser batizado; e João, que escreve depois deles, após ter dito que Jesus era o Verbo de Deus desde toda a eternidade, começa logo a relatar a sua vida adulta nas margens do Jordão. Curiosamente, os evangelhos apócrifos (aqueles relatos da vida de Jesus que a Igreja nunca aceitou como inspirados) detêm-se muito tempo na infância de Jesus: é deles que a gente se habituou a chamar Ana à mãe de Nossa Senhora e Joaquim ao pai; é deles que dizemos que os magos eram três e até os nomes; é deles que vêm os milagres na fuga para o Egipto…
Isto mostra que houve um tempo em que o nascimento de Jesus despertou um enorme interesse, mas que foi um tempo muito curto e um tempo que obrigou a Igreja a usar depois de muito discernimento para distinguir a fantasia da teologia, aceitando como inspirados os relatos teológicos (Mateus e Lucas) e recusando os outros todos (mesmo que eventualmente possam conter alguma verdade histórica; por exemplo, nada proíbe, como nada obriga, que a mãe de Maria se chamasse Ana!).
Mas mesmo os dois relatos aceites pela Igreja são muito diferentes entre si, como se pode ver comparando os quadros que descrevem:
MATEUS | LUCAS |
História de Zacarias e Isabel |
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Anúncio por Gabriel a Maria | |
Sonho de José | |
Visita de Maria a Isabel | |
Nascimento em Belém | Nascimento em Belém |
Visita dos pastores | |
Visita dos reis magos | |
Fuga para o Egipto |
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Circuncisão e Apresentação no Templo |
Em rigor, só coincidem em duas coisas: 1. o nascimento de Jesus em Belém de uma família em que o marido se chamava José e a esposa Maria; 2. a afirmação de que José não era o pai de Jesus, mas sim fruto do Espírito Santo no seio de Maria.
O “sonho de José” (evangelho de hoje) faz essa segunda afirmação, a de que Jesus não é filho de José, mas que foi gerado no seio de Maria pelo Espírito de Deus; depois, acrescenta que, apesar disso, Jesus cumpre uma ideia que as pessoas tinham como certa sobre o Messias: que ele seria descendente do rei David. Não descendente de uma forma direta, carnal (para isso teria que ser filho carnal de José), mas de uma forma jurídica, igualmente válida: José aceitando dar-lhe o nome, torna-se seu pai adotivo; e torna Jesus, juridicamente, descendente de David. Esta questão de ser ou não da descendência de David, para nós, hoje, pode não ter grande interesse; mas na época em que Mateus escreveu o seu evangelho, para os judeus aceitarem Jesus como o Messias era fundamental.
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