26 de janeiro – 3º domingo comum
Quadros marcantes da vida de Jesus de Nazaré
Quando Jesus ouviu dizer que João Baptista fora preso, retirou-Se para a Galileia. Deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali. Assim se cumpria o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer: «Terra de Zabulão e terra de Neftali, estrada do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios: o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou». Desde então, Jesus começou a pregar: «Arrependei-vos, porque está proximo o reino dos Céus». Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-Me e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu, a consertar as redes. Jesus chamou-os e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O. Depois começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo. (Mateus)
Podemos ler este texto em quatro quadros:
1º Quadro: Jesus retira-se da região do Jordão (na Judeia), onde vivera algum tempo, para a Galileia. O motivo desta “retirada” é já de natureza persecutória. Jesus apenas dissera uma breve frase no evangelho (a João, no seu batismo) e já está sob o signo da perseguição. De facto, o motivo pelo qual ele se retira é por ter ouvido dizer que João fora preso, ou seja, por ter percebido que havia uma perseguição do poder político aos grupos “batistas”, nos quais ele se inseria (cf. Jo 3, 22). Conclusão importante deste quadro: toda a vida pública de Jesus é marcada pela perseguição.
2º Quadro: Jesus estabelece a sua residência em Cafarnaum, uma cidade à beira do Lago de Genesaré, também chamado Lago (ou Mar) de Tiberíades. Mateus vê nesta opção de Jesus o cumprimento da profecia de Isaías que lemos na Primeira Leitura. Esta é uma constante do evangelho de Mateus: procurar na vida concreta de Jesus episódios que possam demonstrar que ele realmente era o Messias, porque cumpriu as profecias anunciadas pelo profetas. Mateus escreve para judeus, e para estes leitores essa era uma exigência absoluta para aceitarem Jesus como o Messias: que as profecias sobre o Messias tivessem sido cumpridas nele. Conclusão importante deste quadro: Jesus cumpre as Escrituras. Ele é o Messias anunciado pelos profetas.
3º Quadro: Jesus inicia a sua vida pública anunciando a proximidade do “Reinado de Deus” e pedindo a conversão das pessoas. Algumas correntes judaicas tinham uma visão factualista do “Reinado de Deus”, isto é, achavam que realmente iria existir um reino histórico, constituído por pessoas concretas, de tal modo santas que seriam governadas pelo próprio Deus, através do Messias. Jesus não parece alimentar em lado nenhum esta crença historicizante do Reino (o reino de Deus como um reino político ao lado de outros), embora assuma o “Reinado de Deus” como o centro da sua pregação e a conversão (santificação da vida) como o caminho para o acolhimento desse Reino. A diferença está em que os sinais que Ele dá da proximidade do Reino são curas de doenças e enfermidades entre todo o povo, e não a segregação de um conjunto de eleitos, supostamente já santos. Conclusão importante deste quadro: Jesus é o verdadeiro inaugurador do Reino de Deus, mas o Reino de Deus é de outra natureza, que não sociopolítica, é um Reino da conversão contínua e permanente ao amor de Deus, e os seus sinais mais imediatos são a libertação efetiva das pessoas das suas fontes de sofrimento.
4º Quadro: Jesus chama alguns para O seguirem e neste chamamento alude já a uma missão futura: “farei de vós pescadores de homens”. Mateus é o evangelista da Igreja. E a Igreja não é só a comunidade dos seguidores de Jesus, mas também a comunidade dos anunciadores de Jesus, em ordem ao crescimento do Reino de Deus. Já agora, notemos que aquele “logo o seguiram” se refere mais à liberdade pessoal da sua entrega do que à reação temporal. Conclusão importante deste quadro: não somos cristãos (só) para adorar a Deus, mas para – no seguimento de Jesus – “pescarmos homens”!
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