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06.12.2009 – II Domingo do Advento

II DOMINGO DO ADVENTO

Bar 5, 1-9; Sl 125; Filip 1, 4-6.8-11; Lc 3, 1-6

Salvação?!

 

         No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide e Lisânias tetrarca de Abilene, no pontificado de Anás e Caifás, foi dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele percorreu toda a zona do rio Jordão, pregando um baptismo de penitência para a remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus’». (Lucas)

Salvação?!

                Os primeiros de todos os cristãos, os apóstolos, quando queriam anunciar a ressurreição de Jesus, usavam um tipo de discurso a que os peritos chamam kerigmático: começavam por dizer que o Jesus que eles anunciavam como ressuscitado era aquele mesmo Jesus que a pessoas conheceram; depois tentavam demonstrar que as Escrituras já se referiam a Ele; finalmente confrontavam os ouvintes com a necessidade de tomarem uma opção: aceitar ou não aceitar a Ressurreição de Jesus.

                Evidentemente, na altura em que os primeiros cristãos faziam estes discursos não estavam a escrevê-los; faziam-nos oralmente. Mas, depois, algumas memórias desses discursos e outras composições sob o mesmo modelo foram redigidas e chegaram até nós, exactamente pela mão de Lucas, no livro dos Actos dos Apóstolos. Mas, se olharmos com atenção este pequeno texto do Evangelho, também de S. Lucas, o que temos é outra vez esse modelo de discurso. Lucas começa por enumerar todo o contexto em que Jesus aparece, cronológica, geográfica e culturalmente. Fica claro que ele não está a falar de um acontecimento qualquer, mas de um acontecimento muito preciso; e esse acontecimento é Jesus de Nazaré. Depois, com a citação do profeta Isaías, fica também muito clara a tentativa de ir às Escrituras mostrar como já lá estavam previstos estes acontecimentos. Falta aqui o terceiro tempo, a opção dos ouvintes, mas ela está de facto na continuação deste texto e vai aparecer-nos no Evangelho do próximo Domingo.

                Portanto, o que nós temos aqui é o mesmo modelo de pregação cristã, chamado kerigmático, que os apóstolos usavam para anunciar a ressurreição de Jesus.

                O próprio modelo do discurso nos chama a atenção para que a personagem central neste texto do Evangelho não é João Baptista, mas Jesus, exactamente como nos muitos discursos iguais de Pedro e de Paulo, no livro dos Actos dos Apóstolos, a pessoa importante é Jesus e não os apóstolos que “pregam”. O que Lucas está a fazer, logo no início do Evangelho, é inserir Jesus na História: na História do seu tempo (décimo quinto ano do imperador Tibério), na História do seu povo (Anás, Caifás), na História da fé judaica (oráculos do profeta Isaías) e na história da inteira humanidade (“toda a criatura verá a salvação de Deus). Esta última nota, a afirmação de que Jesus veio para toda a humanidade, é uma peculiaridade de Lucas em todo o seu evangelho. Os outros três evangelistas, por exemplo, citam o mesmo texto de Isaías, mas já não citam este último versículo, que Lucas resume no essencial: “todos os homens verão a salvação de Deus”.

                O Livro de Isaías foi composto em épocas diferentes e por autores diferentes. O texto citado foi escrito por um autor no tempo do cativeiro da Babilónia. É, portanto, um alento ao povo, que estando numa situação de cativeiro aspira ardentemente por essa “salvação de Deus”. Evidentemente, se João Baptista centra o seu discurso neste profeta do cativeiro da Babilónia, dentro da panóplia de textos possíveis do Antigo Testamento, é porque o seu tempo, o tal décimo quinto ano de Tibério, lhe parece de cativeiro e as pessoas lhe parecem necessitadas do mesmo alento, do mesmo feliz anúncio da salvação próxima de Deus.

                E, de facto, sobretudo por causa dos tais Tibério, Pilatos, Herodes, Filipe, e mesmo do Anás e do Caifás, assim parecia acontecer. A expectativa messiânica no tempo de João Baptista estava ao rubro. O grito “preparai o caminho do Senhor” encontrava eco em todos (em quase todos!) os corações daquele povo. Não quer dizer que depois não tivessem matado Jesus! E no nosso tempo, no nosso coração, de que salvação precisamos?

 

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