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22.11.2009 – Solenidade de Cristo Rei

SOLENIDADE DE CRISTO REI DO UNIVERSO
Dan 7, 13-14; Sl 92; Ap 1, 5-8; Jo 18, 33b-37

Verdadeiro Deus e verdadeiro homem

         Pilatos perguntou a Jesus: «Tu és o Rei dos judeus?» Jesus respondeu-lhe: «É por ti que o dizes, ou foram outros que to disseram de Mim?» Disse-Lhe Pilatos: «Porventura eu sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?» Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui». Disse-Lhe Pilatos: «Então, Tu és Rei?» Jesus respondeu-lhe: «É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz». (João)

Verdadeiro Deus e verdadeiro homem

            A conversa que S. João nos relata no Evangelho da missa de hoje decorre no pretório (a casa/tribunal de Pilatos). Pilatos está a julgar Jesus, depois dos chefes judeus lho terem entregue, pedindo a sua morte. Nenhum judeu ouviu esta conversa. Para falar com os judeus que o acusam, é o próprio Pilatos que tem que vir cá fora! O motivo é que os judeus ficariam impuros se entrassem no pretório… Como não estava lá nenhum judeu, nem temos actas do julgamento, não podemos dizer como foi a conversa entre Jesus e Pilatos. Uma coisa sabemos: eles falaram necessariamente sobre a hipotética pretensão de Jesus se querer fazer rei, dado que esse era o motivo da acusação dos judeus. Há aqui, portanto, um “espaço vazio” entre a certeza de qual foi o tema da conversa/julgamento e a ignorância do conteúdo da mesma conversa, “vazio” que o evangelho de S. João aproveita para fazer teologia (catequese) sobre a realeza de Jesus.
            Ora nesta catequese, ressaltam duas coisas: a primeira é a mestria com que João caracteriza psicologicamente os dois contendores (Pilatos e Jesus) ao longo da conversa; a segunda é a introdução de uma discussão sobre a “verdade”.
            A discussão entre os dois contendores evolui progressivamente para um diálogo de surdos, com trocas de papéis psicológicos: Pilatos, de seguro torna-se progressivamente inseguro, enquanto Jesus se torna progressivamente o sereno senhor da situação. No início, Pilatos esclarece a causa da prisão: Jesus é acusado de pretender ser rei dos judeus. Jesus tenta perceber, não sem uma refinadíssima ironia, quem sustenta essa acusação: os judeus ou o próprio Pilatos? Pilatos irrita-se, porque percebe o ridículo da acusação e mais ainda ao ver o seu nome associado a ela!; assim, foge para a frente, como quem diz: “Ok. Ambos sabemos que isso é ridículo; vamos então ao que interessa: o que fizeste?”. Mas nesta altura Jesus troca-lhe as voltas: “isso não é tão ridículo assim, Pilatos; porque eu, de facto, sou senhor de um reino, embora de um reino de outra natureza totalmente diferente!”
            Tecnicamente, com esta resposta, Jesus caiu debaixo da acusação que lhe era feita. Pilatos fica sem espaço de manobra. Jesus acaba de condenar-se a ele mesmo! “Então, tu és rei!” exclama Pilatos desarmado de todas as lógicas. E Jesus conclui: “o meu reino é a verdade: todo aquele que é da verdade escuta a Minha voz”. Curiosamente, não se pode dizer que esta pretensão de Jesus de ser “rei da verdade” tenha afectado grande coisa Pilatos. Sabemos que se limitou a perguntar “o que é a verdade?”, sem esperar pela resposta…, e retomou o julgamento numa linha muito pragmática: uma negociação com os chefes judeus para eles aceitarem libertar Jesus em vez de Barrabás. A pergunta é: porque é que João introduz aqui este discurso sobre a verdade, e de modo tão solene, se afinal é um assunto marginal ao julgamento?
            A resposta talvez seja: porque João escreve no contexto de uma heresia do final do séc. I que, entre outras coisas, afirmava que a paixão de Jesus não contava nada para a fé, ma sim (apenas) aquilo que Ele tinha pregado! Para esses hereges, a presença especial de Deus em Jesus tinha vindo pela água (baptismo), mas voltara a sair de Jesus na altura da morte. No fundo, Jesus era um homem que tinha recebido de Deus uma missão muito especial, até única, mas apenas um homem! Aliás, iam mais longe, dizendo que para ter acesso à verdade bastava uma certa união íntima e intuitiva com Deus. Para esta doutrina, Jesus acabava por ser dispensável! João responde-lhes: “a verdade só se descobre em Jesus, e em Jesus julgado, condenado e morto sob Pilatos”.
            Então “ser Rei” não deste mundo, mas de outra realidade, torna-se uma afirmação claríssima de que Jesus é Deus, mesmo na morte, e não apenas um homem. Para João, a resposta sobre o que é a verdade não é do domínio metafísico, mas do domínio teológico: a verdade é a inteira humanidade e a inteira divindade de Jesus.
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